31 julho 2008

Vértebra 1 - O outro tropeça-me

Vertebrais está recebendo os primeiros tratamentos de imagem.

Esta é uma das ilustrações de Isabel Rolim para o livro.

Aos poucos vou mostrando pra vocês minha nova cria.



Entrevista

O Claudio B. Carlos do Balaio das Letras, fez uma entrevista comigo para o site Simplicíssimo.

Aos que aqui chegam, convido para chegar por lá também.

29 julho 2008



a ilusão assovia
- aço sobre a carne -

gritolâmina
descascando
- lento e preciso -

o que é preciso
ser descascado




Ilustração: Julio Quaresma

Anúncio contra a insônia

Conheça a Clínica Sono Perpétuo. Temos a melhor morte para sua insônia.

22 julho 2008

vida

negrura de auspícios
hospício dentro

loucura prenhe
nascimento

20 julho 2008

Quebra de Rotina

- Não Matarás. - Disse o pai ao filho - É um pecado demasiado para tua alma.
- Hi! Agora já matei.
- Então, não desperdiçarás. - Retrucou a mãe canibal, ainda não acostumada às novas moralidades do marido.

19 julho 2008

Pintura nova

Aos que aqui se hospedam:

Depois de quase três anos, resolvi pintar as paredes da Casa.

Cores mais claras para abrigar minha escrita e seus olhares.

A ilustração que acompanhará o Casa de Paragens é de Estevão Teuber e estará no meu próximo livro de poemas. Eu a trouxe para cá porque acredito que ela traduz em imagem a voz poética deste espaço.

18 julho 2008

VERTEBRAIS

meu novo livro de poemas indo para o nascedouro.

em breve...

15 julho 2008

Laoviah

lesma no hibisco

nojo e beleza
sossegam na folha

na lentidão
ela celestia-se
em silêncio de rastejo

nos dias de lua
é possivel ler
nas pupilas da lesma

as últimas loas
do anjo Laoviah

13 julho 2008

Mais uma vez o último da fila. Resolveu resolver essa situação. Viajou até o Paraguai, comprou uma pistola Imbel gc md1 a1 oxidada, 20 tiros. Tornou-se o melhor eliminador de filas do Brasil. Está com planos de melhorar o trânsito. Se Deus quiser, mês que vem retorna ao Paraguai para comprar uma metralhadora AK 47.

12 julho 2008


Manhã clara
no Estreio de Hormuz.

O calígrafo eremita Abdul-Samad,
pela última vez,
grafou o caminhar na pedra.

Entrou no mar
até que a água lhe chegasse ao pescoço.


Gritou-se vazio, renunciado:
- aqui finco meus pés
o resto do corpo
entrego a ti, Alláh!

Depois disso,
as manhãs ficaram bem mais claras
no estreito de Hormuz,

porque
banhadas em sangue e entrega
para sempre

08 julho 2008

Nádia e as abelhas

Nádia, nua sob eucaliptos,
tenta ler os poemas de amor
que ganhou na noite anterior.
Antes de desdobrar as folhas amassadas,
os seus olhos são cobertos por abelhas.
Nádia, nua e teimosa,
insiste na tentativa de ler.
Esquiva-se e nem se percebe colméia futura.
Três dias depois, vestida de abelha,
Nádia não tem mais olhos, mãos,
língua de ler poemas.
Toda mel e asa, apenas imagina
um possível verso escrito por seu amado:
"bolha de sabão derrota o silêncio"

03 julho 2008

Série "casais" - Passeio

Vai ser bom, caminhada, ar puro, nós estamos muito sedentários, e eu estou um pouco acima do peso.
Eu disse que sim para não ter que explicar a ela por que tinha rido, além disso, ela não saberia o que é auto-engano.
Agora, estamos aqui caminhando, tentando voltar à estrada principal onde deixamos o carro. Perdidos, claro, estamos perdidos. Engraçado é que ela não reclama. Eu me excito ante um pensamento vil: matasse ela aqui, quem saberia? Matava e pronto. Olho o imenso corpo dessa mulher e me excito mais frente a outro pensamento vil: eu é que vou me matar, afinal como esconder essa coisa gigante, olha isso? E quer andar de mão dada. E não me desgruda nunca.
Vamos por ali, a estrada é do outro lado daquele morro.
E seguimos, ela pesa sobre os arbustos, eu tenho pena dum pé de mata-pasto. Pobre planta, aleijada para sempre. Ao nosso redor apenas uma capoeira sem fim. Mas eu podia matar. Podia sim. Mas com o quê? Só se a gente retornar noutro dia, daí venho antes, trago as ferramentas, quando passar por aqui, pego a pá, meto na cabeça dela, já abro o buraco e pronto, me livro da elefanta. É um bom plano, pena que depois de hoje, dessa andada toda, ela não vai querer voltar aqui. Nem bonito esse lugar é. Ou eu podia voltar aqui pra me matar. Mas essa merda nem árvore tem pra pendurar uma corda, só esses pés de Silva, esses Paus de Chuva. Eu queria saber como a gente se perdeu aqui?
A estrada não deve estar longe.
De novo isso? Eu sei que a estrada deve estar em algum lugar perto daqui, gorda miserável?
O que você disse?
Eta! que ela ouviu, nada amor, tava xingando um espinho que me espetou a canela. Um espinho gordo. Está anoitecendo, coisa estranha, a gente não andou tanto pra dentro do mato assim pra se perder. Entramos naquela estradinha, seguimos até o alto do morro, depois descemos, demos uma caminhada na beira do rio e voltamos. Você não acha estranho a gente se perder aqui, num lugar tão sem graça? Ela me olha, tem um sorriso fixo na cara.
Não, não acho estranho. A estrada deve estar ali perto. Vamos andar mais um pouco.
Por que ela está rindo? Eu já passei por aqui. Esse é o mata-pasto aleijado. A gente está andando em círculos.
Não, a gente não está. A gente está indo em direção à estrada.
Escurece, a estrada não chega, tento insistir para que a gente pare, descanse, entenda o que está acontecendo. Por que não saímos do lugar, deste lugar? Não me ouve mais, nem desgruda mais da minha mão.
Vem, é por aqui, ali do outro lado fica a estrada. Não dorme não, não senta não, caminha, caminha, porque não devemos estar longe da estrada...

Série "casais" - 1. Arrependimento

Casei novamente. Não devia.
Vou ter que enviuvar mais uma vez.

02 julho 2008

Palavras emprestadas 10 - Frederico Mira George

AQUI é possível conhecer um dos mais impressionantes poetas portugueses da atualidade
Frederico Mira George

Emprestei dele esse poema, pois há muito não lia algo tão intenso


fechou-se o palco com um actor lá dentro
fecharam-se as cadeiras
as luzes
os alfabéticos-pirilampos
baixou o lustre com os grandes e os
pequenos cristais de quartzo
correu a cortina de ferro
fechou-se o palco com um actor lá dentro
nesta casca de ovo o actor
respirou
enfim
por fim
até ao fim
e silenciou-se numa espécie de chão
e madeira
lembro assim o actor que foste
e as horas que passo sem ti
hoje
dia em que também estou fechado no ovo
respiro o fumo que deixaste do último cigarro
e é de um corpo triste e derrotado
que faço a minha vitória

Frederico Mira George