25 janeiro 2007

dia nada
diabo
sob pele
sub olho

deus raquítico
rato tânatos
noite fervida
em mim


fevereiro
favor de sol
ser este
corpo quase leito


a vida serve serva nua agasalha-me ventre vadio de constelações digo-me fêmea faça a limpeza deste pecado restrito às manhãs nos motéis teu homem espera riste de carne fornicar formigar peito perna dentro teu pai deve saber dos atrasos arados gado cheio que és
®
rubens da cunha

17 janeiro 2007

Doméstico Três

fotografias

o tempo fixoperdido

desbotado vestido de noiva
calça fora de moda
mar nunca mais visitado
rara visão dos avós ainda virgens

batizado do filho morto
aos dezoito anos
atropelamento
a foto que saiu no jornal
lona preta sobre o amontoado de carne
não está na parede
a morte concreta não se prega no concreto

apenas a morte-diarista
aquela que limpa o pó
tem emprego certo
no cárcere-memória
® Rubens da Cunha

09 janeiro 2007

Doméstico Dois

talvez a mesa esteja
no lado errado da sala

a mesa não fala
expõe-se nua inteira

nem cadeira
nem toalha
acompanham a solidão

a mesa é messe falha
dentro da casa

Rubens da Cunha

03 janeiro 2007

Doméstico Um

o vaso sobre a mesa balança
ao vento do acaso

escamoteia esperanças
opera milagres

espera a queda
num equilibrío de rosas e lírios

o vaso agüenta o olhar
que olhar nenhum aguenta
® Rubens da Cunha