Minha avó dizia que precisava ir no médico da pelha. Na fala dos antigamentes pele era esta coisa atravessada por um erro de pronúncia: ora mudo, desimportante, lavável, feito sujeira, ora câncer, mancha, cicatriz desafiadora do sentido.Oferenda ao riso. Minha avó também dizia tu não acardita meu filho e eu não acreditava que a a palavra acreditar pudesse ser tão surpresa, porque nascida daquela boca analfabeta e vinda tão cheia de crença e fé, porque de minha vó nunca tive outra coisa, somente palavras pronunciadas de acordo com sua sabedoria anônima. E eu? Mergulhado que sou no mundo das palavras que coragem tenho para quebrá-las, desritimá-las ao ponto da dor? Pouca, pois o que faço é pensado. Quisera mesmo ser igual a minha avó: dizer o indizível e fazer os netos obedecerem cegamente. Nem filhos tenho para acarditarem em mim ou colherem verdades na minha pelha.
® Rubens da Cunha