27 setembro 2009

Tragédias breves e anônimas VII

Ela ficava sempre na soleira da porta da frente. O mundo atravessava seus olhos. Ele não gostou. Mulher minha não fica emperada em solera de porta nenhuma. No lugar da porta e das janelas, construiu mais paredes. Qué ficar olhando pra fora, olha aí pros fundos, aproveita e cuida das horta.

24 setembro 2009

leitura

lia
sentado numa pedra
a vida breve

tempo demais sem a pele de Léa
sem os liames de seu corpo azul

lia
sozinho
as passagens

dentro
paisagens nuas
desvestiam-se

saudosas dos adentramentos de Léo
sem o verbo amar

lia
para esquecer
novenas
paixões
olhos de cão

e para nunca mais encontrar
os dois perdidos
em seu sangue inóspito

10 setembro 2009

Tragédias breves e anônima VI

Esculpiu o boneco à sua imagem e semelhança. Caprichou no formato dos lábios. Deteve-se também num pequeno defeito no dedo anular direito. Tudo estava de acordo. O boneco era a sua cara. A dor aguda. Um último pensamento: eu consegui. Dias depois encontraram o corpo. Ao lado, um boneco com uma agulha enfiada no peito. Os legistas relutaram muito, mas, por fim, aceitaram o suicídio como a causa da morte.