31 julho 2006

oração para antes do sono

Pailavra terra e pedra
Pailivra-me de todos males
Pailouva-me vértice de caos
Pailava-me sujeira e alma

Agora e na hora do poema

Amém.

Rubens

Bovino

fêmea efêmera
a poesia
laça com seu archote
alguns humanos

domestica-os
ordenha seus úberes cheios
até saberem que o vazio
é um cetro de ternura
pascendo as vacas


® Rubens da Cunha

28 julho 2006

A VERDADE



VII

Perderás de mim
todas as horas

porque só me tomarás
a uma determinada hora.

E talvez venhas
num instante de vazio
e insipidez.
Imagina-te o que perderás
eu que vivi no vermelho
porque poeta, e caminhei
a chama dos caminhos.

Atravessei o sol
toquei o muro de dentro
dos amigos

a boca nos sentimentos

e fui tomada, ferida
de malassombros, de gozo
Morte, imagina-te

A PERFEIÇÃO




Escorpião de seda. Pulsando silencioso ali entre as frinchas.
Ou eras o outro no quase escuro do quarto.
Úmido. De seda. Tua macia rouquidão.
Igualzinha à macia rouquidão de uma sonhada mulher,
só que não eras uma mulher, eras o meu eu pensado em muitos homens e muitas mulheres,
um ilógico de carne e seda, um conflito esculpido em harmonia,
luz dorida sobre as ancas estreitas, o dorso deslizante e rijo,
a nuca sumarenta, omoplatas lisas como a superfície esquecida de um grande lago nas alturas,
docilidade e submissão de uma fêmea enfim subjugada,
e aos poucos um macho novamente, altivo e austero,
enfiando o sexo na minha boca.






(Eis a Senhora H afligindo meus dias. Ainda e Sempre)

25 julho 2006

E Todo

chove:
milhares de formigas morrem
futuros pássaros são desistidos
brotos não se conhecerão árvores
teias serão paisagem

chove:
minha vida conflui para o abismo
e todo
água
barro
ovo
teia
broto
formiga
me atiro alma adentro


® Rubens da Cunha

24 julho 2006

prenunciação


"Eis a construção sendo feita bem diante dos olhos do leitor. Argamassa, cal e sangue."
Gabriela Kimura

















O livro Casa de Paragens está quase...

em breve, novas notícias.

18 julho 2006

Poema à Meia-Noite

tenho cascos agruras
tenho a mancha
apontam-me na rua
falta-lhe o Filho falta-lhe o Filho

é chegada a hora de calar os agressores
quando receberem meu sangue-gozo
atenuarão o discurso

o Filho lhe foi benevolente

nas mãos de alguns ainda restarão pedras


® Rubens da Cunha

14 julho 2006

"aqui tens o que te pertence" mt 25,25

desfilo fêmea pelos salões da realeza
eles me têm em alta conta
dizem que minha virilha depilada é vacina
os nobres surdam
os nobres me olham compaixão
sabem dos meus escorregadios

faço tudo: do silêncio à mentira
gostam de mim porque
sou sei dizer manhã quando anoitece
sou sei dizer águia quando bem-te-vi.
lavo milagres
levo escolhas

aceno a cada um deles com o cerne das coisas
não é fácil
às vezes fujo
às vezes me encontram chorando
pela falta
pelos cantos

tanta doçura trazem
que amorteço
amordaço
e corpo vasilha
recebo o que mereço

11 julho 2006

Enxáguo meus olhos com álcool. Risco o fósforo.

Tão bonito: esta é a última vez que eu vejo o fogo.

05 julho 2006

Assim

e a falta palavra sobre os costados
e a fala ferrugem lancinando meus dias.

venho aqui gritar os impropérios de sempre.
venho aqui me exilar na casa quase dos meus amigos:
os que já experimentaram o meu tato
e os que só me imaginam

a estes advirto: sou homem de estranhos.
àqueles informo: eu menti

® Rubens da Cunha