15 setembro 2010

Crasso

0 corpo violentado no fogo
a cópula desdentada entre capins
os mastins catingando esteiras

a vida esfregando-se na morrinha cotidiana

o sol lá fora, dizem
azul lá fora, preconizam

aqui dentro os porcos chafurdam
fossem serpentes, fossem cavalos, rinocerontes
mas porcos e seu olhar vesgo
sua cambaleante banha e brancura

o sol lá fora, dizem
azul lá fora, preconizam

ouço as vozes
não tenho escolhas
só escolhos

levarei meus porcos à beira-mar

05 setembro 2010

Vittório

a nudez me deflora
meu pau em estado vegetativo desarma a pouca hombridade que me resta
o reumatismo evidencia a ruptura
os rompantes duros de antanho são memórias
histórias inaptas ao devir

tenho medo e silêncio
nesse domingo fragoso

tenho vísceras presas
no quarto de banho
tenho carregosos espasmos quando nu
sei de meu corpo desinchado
dos poros ocos
das pleuras e cardiopatias
desse retumbar por dentro
entre catingas: boca estômago intestinos bexiga pés sovaco

tudo exala a violência incolor da morte
porta de vidro para o invisível