26 setembro 2008

Palavras Emprestadas 12 - Olga Klaus

A menina puxa a barra do vestido da mãe que bastante plástica prepara um bolo de cenoura.
_ Vê, mãe, tenho que te contar.

_ Ora, Liliana, não fale dessas coisas! Você é uma mocinha, mocinhas não falam essas coisas!!

Outro dia, a menina de cabelo curtíssimo picotado às pressas com a tesoura sem ponta do estojo escolar.
_ Vê, mãe, agora sou um mocinho. Deixa eu te contar…


Olga Klaus
Li aqui, depois do susto trouxe para cá

23 setembro 2008


envolto

todo sombra

todo ombro

e peso do mundo


meu corpo

aglomera-se

cifrado

chifrado

pelo azar

e pela

maneira


descarinhosa


com que o destino

tem se portado

neste seu

filho-abismo
Ilustração: Salvador Dali

16 setembro 2008

Vertebrais


Vértebra: feminino adentro

Ilustração: Helga Tytlik


12 setembro 2008


há tormentos lacrados em meus olhos
grita um igual longe daqui

meus olhos também lacram
logram o dia e vasculham

noites
foices
coices de mula

misérias tantas chovem
movem meu sangue
na direção
do silêncio falido

caído lúcifer
brincando de roda e inocência

10 setembro 2008

Palavras Emprestadas 11 - Gilles Deleuze

Escrever é um fluxo entre outros, sem nenhum privilégio em relação aos demais, e que entra em relações de corrente, contra-corrente, de redemoinho com outros fluxos, fluxos de merda, de esperma, de fala, de ação, de erotismo, de dinheiro, de política, etc.


In: Conversações, Editora 34.

07 setembro 2008

Eu Agora

Olívia Hime me traduz e me silencia

 Olivia Hime - Velho Moinho

Novo Livro - Vertebrais


Ilustração de Estevão Teuber para a Vértebra "Paredes"

Breve conto de maldade 3 - Viagem

p/ Pimenta


Ele viajaria à noite. Europa. Trabalho.

Eu ligo, pode deixar. Ela desacreditou. Homens locais nao ligam. Este transoceânico ligaria? deu o número. Cedeu à velha e ditadora esperança feminina. Ele repetiu, chegando e me instalando eu te ligo. Ela vislumbrou verdade nos olhos dele. O chicote da esperança fustigava-lhe as carnes.

Dois dias depois.
Já deu tempo. Avião nenhum caiu. Claro que não liga. Estúpida. Seria a última noite de espera. Em casa, sozinha. Banho demorado. A mão dele parece que nao viajou. Estão ali, mão e língua, no entre as pernas, fazendo o que deve ser feito em uma mulher.
Dorme. Não Dorme. O telefone ao lado. Última noite de espera. Calcula o fuso horário. Já tinha tido tempo de se instalar. Resolveu se despedir. Melhor, matá-lo.

Trinta e três dias depois.
Insônia. Telefone ao lado da cama. Um fantasma vem lhe penetrar todas as noites. Sentada à janela, a esperança ri com um chicote nas mãos.