24 abril 2007

Palavras emprestadas 6

"Ai de mim, estou desmaiando diante dos assassinos"
"As profetas não passam de vento"
"A morte subiu pelas nossas janelas e entrou em nossos palácios"
"Quando recebi as tuas palavras, eu as devorava. A tua palava era festa e alegria para o meu coração, porque eu levava o teu nome, ó Javé, Deus dos exércitos. Nunca me sentei numa roda alegre para me divertir. Forçado por tua mão, eu me sentava sozinho, pois me encheste de cólera. Por que será que a minha dor não tem fim e a minha ferida é tão grave em sem remédio? Ou será que tu te transformaste para mim em rio enganoso e água inconstante?"
"A fidelidade morreu: foi expulsa de sua boca"
"Por que não me fez morrer no ventre de minha mãe? Minha mãe teria sido minha sepultura, e seu ventre estaria grávido para sempre!. Por que saí do ventre materno? Só para ver tormentos e dores, e terminar meus dias na vergonha?"


Palavras de Jeremias, entre os anos de 627 e 586 a.C.. O mais lúcido, dolorido, questionador e poético dos profetas do Antigo Testamento.

17 abril 2007

o barulho fere o concreto

lâmina imparcial
sobre a cidade

o barulho faz eclipses
sobre o muro-homem

o murcho homem
que incapaz de silenciar

jumenta-se



® Rubens da Cunha

10 abril 2007

vítima
sobre a cabeça
coroa de ostras
mar antes da perda

velho
ressoam marés

barcaças de fúria e ferrugem
no tempo em que o sangue
sabia o caminho das fervuras

Rubens da Cunha



















Ilustração: Chris Hurst

04 abril 2007

o amor falha
filho proscrito
das efermidades

o corpo vareja
seus sabores de aço
pertinência e virtude

resta ser homem crespo
adendo de pele

deus-habitado


Rubens da Cunha

Palavras Emprestadas 5

"Parece que o problema já não é a dominação, e tem-se a impressão de que os homens não devem aprender a viver livres, mas viver juntos e a comunicar-se ordenadamente. Tem-se a impressão de que se deve conjurar os perigos de Babel e voltar a reunir os homens, não agora em torno de uma cidade, de um torre, de um nome e de uma língua, mas a partir da diversidade bem ordenada e bem comunicada de diferentes cidades, diferentes torres, diferentes nomes e diferentes línguas. Tem-se a impressão de que a questão é administrar as diferenças, identificando-as, e tratar de integrar todos em um mundo inofensivamente plurar e ao mesmo tempo burocrática e economicamente globalizado. Tem-se a impressão de que aquilo que importa é seguir administrando ne governando as fronteiras e a transposições de fronteira entre o sim e o não, o ser e o não ser, o possuir e o não possuir, o saber e o não saber, entre o mesmo e o outro"

Trecho de Babilônios somos. A modo de Apresentação, de Jorge Larrosa e Carlos Skliar, in: Habitantes de Babel - Políticas e Poéticas da diferença. Ed Autêntica, Belo Horizonte, 2001.