29 janeiro 2009

Palavras Emprestadas 13 - Georges Bataille

Um sapato abandonado, um dente estragado, um nariz curto demais, o cozinheiro que cospe na comida dos patrões, estão para o amor como a bandeira está para a nacionalidade.
Um guarda-chuva, uma sexagenária, um seminarista, o cheiro de ovos podres, os olhos cegos de um juiz, são raízes por onde o amor se alimenta.
Um cão que devora um estômago de pato, uma mulher bêbada que vomita, um guarda-livros que soluça, um frasco de mostarda, representam a confusão que veicula o amor.

Georges Bataille in: O Ânus Solar

26 janeiro 2009



santifico
pélvis ânus

arcanjo aéreo
na missa de domingo

vitimo hóstias
duas culpas
:
o gozo
entre dentes

o pai
farejando o soco



Fernando Karl

A editora Letradágua está lançando Casa de água, uma edição comemorativa de 25 anos do escritor.

Casa de água é uma antologia que reúne 200 poemas.
Nessa antologia também foram incluídos 30 desenhos de sua autoria.

Eis os títulos que compõem o Casa de água:

1. Tema para romance;
2. No verão amadurecem os chapéus
3. Desenhos mínimos de rios;
4. Diário estrangeiro;
5. Travesseiro de pedra;
6. Brisa em Bizâncio
7. Se eu mesmo fosse o inverno sombrio.

Caso v. queira adquirir o livro Casa de água, é só entrar em contato com o Antonio, dono do Sebo Dom Quixote, na cidade de São Bento do Sul/SC, e solicitar um exemplar a ele através do
contato@sebodomquixote.com.br
Telefone do Sebo Dom Quixote: 47-3633-5365.
www.sebodomquixote.com.br
Detalhe: o Casa de água só pode ser encontrado no referido sebo.
O preço do livro é de R$ 30,00 + o valor do impresso registrado (que custa mais ou menos R$ 4,00).

22 janeiro 2009

Fogarear


a língua fogareia
cheia de veneno

e

avança - cobra -
nos tornozelos
untados do poeta

ele geme
estanca delira

e

manca - morto -
em fome cumprida
de verso e alegria



Ilustração: Odilon Redon

19 janeiro 2009

Artigo - Anexo Ideias

Regina Carvalho escreveu no Anexo Ideias sobre Vertebrais.

A poesia por inteiro

DE CRONISTA PARA CRONISTA: REGINA CARVALHO ESCREVE PARA RUBENS DA CUNHA

Rubens da Cunha nasceu em Joinville, onde mora e trabalha. Ele é o cronista de quarta-feira no jornal “A Notícia”. Formou-se em letras – português e, este ano, começa o mestrado em literatura na Universidade Federal de Santa Catarina. Tem outro livro de poemas (em prosa) publicado pela Editora da UFSC, “Casa de Paragens”, o mesmo nome de seu blog. E um de crônicas, “Aço e Nada”, pela Design, de Jaraguá do Sul. Participante do Grupo Zaragata, de Joinville, já foi um dos coordenadores do grupo, mas abandonou tal atividade há pouco tempo.
Em “Vertebrais”, de 2008, belamente apresentado em caixa, com 15 livretos e ilustrações muito significativas, Rubens confirma que é um poeta que não tem medo das palavras. Com isso, corrobora a máxima de Stéphane Mallarmé, tão repetida, de que um poema não se faz com ideias, mas com palavras.
Até mesmo com as “malas palabras”, aquela que a hipocrisia humana risca do texto escrito sempre que pode, embora as utilize largamente na fala cotidiana. Ele se dá bem, usando-as de seu próprio jeito, inserindo-as no discurso poético com a maior naturalidade, embora essa mesma naturalidade cause o estranhamento poético necessário. Senão, vejamos: “O tempo fodeu janeiro”, “eu sigo a não dança dos putos”, “fodo desvios não depilados”.
Esse mesmo trato familiar e descontraído com as palavras permite mudá-las da categoria gramatical a que pertencem, e contrabandeá-las eficientemente para outra. Ou, então, emenda e desemenda umas nas outras, dando novos significados e extraindo novos sons, com uma força inesperada. E com uma sonoridade fantástica, que nos faz pensar nos velhos e áureos tempos em que poemas eram ditos ou cantados ao som da lira.
No primeiro caso, “O sol gaivota o tempo", "Antes que o sono senzale meus olhos, "desencarno/e pássaro ao outro lado", "o outro tropeça-me”. No segundo: “...elas vermelhoenchem seu jardim", "o amor quefoiumdia", "vermemesmo", "facalágrima/silêncio-areia”. Ao lado de todo este labor/lavor formal, há ainda uma preciosidade semântica, um assumir seus ásperos fragmentos, às vezes os vergonhosos lados como pessoa, coisas que apenas um poeta sabe como dizer, e enfrenta: o que vai ser dito, e a forma de dizê-lo. De um poema em prosa: “argumentaram sobre a inquietude danosa da poesia. Eu fingi desatenção. Mas sob os pés fervilharam estiletes, sombras, víboras e versos". Rubens trafega facilmente do poema em versos para o poema em prosa, do qual Baudelaire foi e é o grande astro, com poemas que, às vezes, são quase contos, às vezes, pura poesia.
Nos dias de hoje, um poeta não pode ser poeta sem estudar – seja estudo formal, seja o informal, pela leitura dos outros poetas que existem, grandes ou não. Esta leitura em Rubens transparece em alguns brilhantes momentos – mas só serão notados como tal por outro leitor dos mesmos poetas, o grande problema dos intertextos, citações, paródias.
Gosto especialmente de dois. Em um, vejo o mais famoso haicai de Bashô, aquele que fala do sapo e de seu salto no tanque, talvez o mais traduzido, citado, até em canções populares. E a canção popular também transparece nele, pela referência a Caetano Veloso, em outra canção que não aquela cuja letra que o compositor baiano atribuiu a “The Frog”, de João Donato. Diz Rubens: “tijolo/musgo/escura água circular//vez ou outra/uma rã desastrada”.
Em outro, noto Maneca de Barros: “Agora é Deus quem joga as brasas/ Tenho o esôfago em carne viva/Sempre acredito que sejam pirilampos”. Bom demais, bom demais!* Regina Carvalho é escritora e cronista do “Anexo” de quinta-feira.

REGINA CARVAHO FLORIANÓPOLIS

15 janeiro 2009

quase um sonetinho terroso

fuce. mais. encontre o estrume. o estilo.
fuce poeta. atrás -por trás - da palavra.
ela vai dizer que não quer. que é moça.
fuce. force. não fale a verdade:

fale: salvação. escória. ventre.
talvez ela olhe e mostre a língua.
ou o lábio encarnado enganando a boca.
ou contorça-se em mesóclise. talvez.

não fuja. enfrente. gadunhe com febre.
a palavra falseia mas gosta dos cantos.
das entraduras sem que ela peça.

vá. cresça dentro da palavra. esqueça
vergonha menoridade castigo.
faça seu dever de porco. de macho.

06 janeiro 2009

Continho aquoso


a palavra afunda. afogo junto. juntam-se curiosos: "ele vai voltar, é só depois da terceira afundada que não se volta mais". a palavra geme: "eu sabia, mentiroso!". retiram-me da água. estranham os lábios mordidos por fora. "isso não é coisa de peixe, isso é coisa do diabo". jogam-me na água novemente. a palavra dilata. me dilata a cabeça, o estômago e se me explode: "vida de isca é isso, poeta!"

Ilustração: Hieronymus Bosch

Prêmio Dardos

O Borges de Garuva, o Claudio do Balaio de Letras e o Eremita do Eremitério indicaram-me ao PRÊMIO DARDOS.



Agradeço imensamente. Agora tenho que escolher 15 blogs para repassar o prêmio. Assim, eis a lista dos meus indicados:


Borboletras no Quintal
Clotilde Zingali
Conto de Facas
Os Textos que nao Mostrei a Ninguém
Um Sentir Complementa o Outro

Ovo Azul Turquesa
Invento
Jardim de Poesia
Lômas Stoff
Mainieri´s

Poema e Filosofia
Piano
Pensar é um Ato
Lua em Libra
Vomitando Imagens

05 janeiro 2009

Eis-me

No dia do lançamento do "Vertebrais" teve entrevista para uma televisão local. A Rosane trabalha comigo na mesma escola e também faz parte desse programa: Alma da Terra.

Detalhes Técnicos:

1) O programa é focado na cultura gaúcha, por isso o nome, o logotipo e a música inicial. Mas, às vezes eles cobrem outros eventos culturais.

2) Os nomes dos ilustradores, às vezes, não batem com a ilustração mostrada.

Detalhes Pessoais:

1) Tenho a língua presa, portanto não é defeito no áudio. :)

2) A timidez latente ainda não me deixa saber o que fazer com as mãos.

02 janeiro 2009

previsão para 2009

Nesse ano

dez promessas (despromessas?)
serão cumpridas no sonho

que outro ardil não tenho
que milagres não consigo
ainda

falta-me paciência:
para colar as vontades na geladeira

para batizar-me diariamente
com alface e exercício físico

quem sabe se vocês trouxerem
um chicote
talvez um pouco de dinheiro
uma traição
um pé na bunda

quem sabe assim
minhas despromessas não virem
lindamente (antipoeticamente)
objetivos a serem alcançados?