30 junho 2006


a verdade crispa o que ele ainda tem de surpresa


a verdade não presta

26 junho 2006

Romântico


amar alto
só me coube
num passado distante
quando eu era outro

o amor vInha da noite
trazia-me lágrimas e subornos
armava campanas em mim

eu sabia e deixava




® Rubens da Cunha
Ilustração: Germán Caporale

23 junho 2006

teste para o silêncio,
meu e do blog

20 junho 2006

Oco é um
outro nome
da arrogância.
É como se
as imbaúvas
fossem formigas
disfarçadas.
O arrogante
é um muito
inseto
camuflado
nas significâncias
da ilusão.
É como se
houvesse
um osso vazio
onde esconder
o receio:
fratura natural
em falsa máscara.

® Rubens da Cunha

16 junho 2006

breve desesperanaça

é tempo de planger
de planar entre correntes de ar e dor

é tempo de desesperar
de nunca cortejar as intenções
de poetas crianças e anjos

13 junho 2006

Fora



cinza d’outro tempo:
inconciso corpo
jaz disperso
no mar de agora

lá fora
a vida escolta a tarde dos felizes



® Rubens da Cunha
Ilustração: Germán Caporale

06 junho 2006

O ódio - 4 Casas

Casa 4

Aquele homem queria dos seus algozes mais que a surpresa nua do crucifixo, mais que a voz das mandíbulas bramindo ao sobrevôo de lástimas e caos. Caminhante de gólgotas, ele queria a cegueira por escolha, queria a visão de templos profanados na memória. Ressurrecto, não esqueceu dos pródigos no vento das parábolas, mas nada sabe do ódio que anda sobre quem salmodia tradições e não carrega a metade da cruz além do grito: “Elias, por que me deste o recomeço?”

Casa 3

O filho degredou-se por quarenta noites. Buscava os bálsamos do pai. Encontrou entre misérias e luxúrias o outro há muito sonhado. Não o pai, o outro que fora irmão nos campos idos do gênesis. Andavam em saudades os dois. Se houve mesuras, não se sabe. Soube-se apenas do ódio (construtor de interrogações em desespero) e do filho, que frágil, recusou-se humano, porque assim estava escrito: “Nas estâncias de Deus, somente aquele que despir-se do abismo perdoará a fome sem resposta dos incautos”.
Casa 2

Nas terras da Judéia, uma pecadora foi quase lapidada por deitar-se com a dobrez dos homens. Antes que sua morte começasse levaram-na aos olhos do Messias: “Mestre, a esta mulher confiamos nosso segredo: somos César, quando dentro de seu ventre guerreamos com as ventas do poder. Ela agora nos trai, pois se recusa ao fingimento que nos salva.” O Messias apenas disse: “A vossa salvação estava no ódio que percorreu cada esgar desta mulher. Os que foram salvos, podem matá-la”.

Casa 1

O Hebreu Eliaquim chegou cansado em casa. Comerciava a fé em jaulas no templo da cidade. Vendia bem esses animais invisíveis, fáceis de fuga, mesmo que domesticados. Mas naquela manhã, um certo filho de Deus atravessou em ódio o templo gritando escritos que Eliaquim já não lembrava mais: “A casa de meu pai não será palco de ladrões. Os que aprisionam a fé serão expulsos do banquete final”. Eliaquim vendo seus animais livres, não verteu lágrima. Amanhã os caçaria novamente.

® Rubens da Cunha

02 junho 2006

Instruções

clausura e sigilo

a febre se aprende pela seda

remontar a voz no vidro da boca

esperar a culatra do coice

ventar-se cais e escureza

ter o que perder

® Rubens da Cunha