30 maio 2008

conto biográfico 3 - (fechando a trilogia)

Ela se esqueceu de se colocar inteira dentro da casa antes de fechar a janela.
Então a janela tornou-se uma guilhotina.
Dentro da casa, seu corpo decapitado tateia paredes.
Fora, a cabeça migra para o sul com um bando de patos selvagens.

27 maio 2008

Conto biográfico 2

Eu vi uma nuvem.
Eu disse:
- Vira tigre, nuvem!, ou então vira peixe, formiga, cavalo-marinho!
E a nuvem teimosa retrucou-me:
- Sou nuvem, querido, nuvem! não me venha com animalidades terrenas. Sou alta e etérea, querido, alta e etérea! Por que será que você tá aí embaixo, mínimo, com a cabeça levantada, tentando me animalizar? Olha pra você, seu incapaz de vôo!
E a nuvem virou-me as costas e seguiu, alta e etérea.
Eu me curvei humilhado e mais humilhado fiquei quando percebi um bando de borboletas rindo da minha cara.

26 maio 2008

conto biográfico

O peixe cansou.
- Oceano, vou-me embora, pois nunca ouvi tua voz.
O peixe sobrevoou savanas, estepes, geleiras, até que conheceu um lince.
Virou almoço.
O lince apreciou sobremaneira as guelras.
- Algo assim para os reis.
Gabou-se garboso aos outros linces.

Atum frio

Geladeira aberta. Atum só na bandeja. Homem só na cozinha. Luz quase da geladeira não ilumina a catástrofe dentro. A mulher coreografou despedidas. Rasgou o passado fechando portas, olhos, raízes. O homem almoça atum frio. Refestela-se em lágrimas - quasar de carne morta - A geladeira ronca vazios. Lá fora, a mulher femea-se em braços mais perfeitos.

23 maio 2008

Mais um caiu

Emaxsuel Rodrigues caiu na rede com o belo

lágrima língua

aos que aqui se hospedam, convido-os para visitá-lo também

17 maio 2008

A morte
salmo agônico
espera os homens
na curva do futuro

Os homens chegam
vazilentos, sombrios
e sangram a morte
com perguntas de adagas

por que agora?
por que manchas nossa carne
com tuas ferramentas?
acaso existe esquecimento em ti?

A morte
feito mãe insalubre
recolhe os homens ao peito
amamenta-os

e fica silencioesperando
pra sempre

Às palavras dos amigos...

Henrique Fialho no seu Volumen resenhou o Aço e Nada.

Ao Henrique, obrigado.

A vocês que me visitam, convido-os também a ir no outro magnífico blog do Henrique:

INSÓNIA

11 maio 2008

Banho

dia todo sob o chuveiro
vontade de lavar-se dentro

o sabonete
de tanto conhecer a pele
foge ralo abaixo

nos olhos duramente lavados
duas estiagens absolutas


© Rubens da Cunha

08 maio 2008

...

sem voz
vago

osso


ouço a vida
ajoelho o choro

e sigo

...