20 abril 2012




todo dia o cotidiano atravessa o aparelho digestivo
estreito túnel que vai da boca ao fim

todo dia a mesma minhoca nos esfomeia
nos esfaqueia com seus contatos de metal

se por fora somos tato 
por dentro somos um cinza gorduroso

difícil de lavar

somos um curral para as tripas
curra para as ideias de alturas 

brancuras

ressurreições


A carne do passado é amarela transparência.
Repousa entre rusgas, coices e outros espinhos.

É uma carne incorpórea
- não morta -
pois que se abrasa na memória, na construção diária do ninho.

A carne do passado é escassa e por isso ouro,
fino ornamento do desejo no centro cercado de escuros.

A carne do passado reluz, avessa ao esquecimento.

Sabe que em sua pele sempre habitarão pássaros:
- os longos pássaros do futuro -