Estive numa praia quase deserta com nome estranho, mais ao sul de onde vivo. Eu soube que baleias invisíveis a visitam nas manhãs de janeiro. Fazem filhos e gritos na rebentação. Só quem pode ver e ouvir são as vacas que pastam nos arredores. Elas levantam a cabeça, param de ruminar, como que exigindo silêncio e ficam embevecidas com o sexo e a voz das baleias. As pessoas do lugar já se acostumaram. Quem chega de fora admira-se com a postura das vacas e tenta a todo custo ver e ouvir baleias também, mas nada consegue além de salgar-se no mar bravio. Foi quando eu vi uma mulher engarrafar palavras e jogá-las ao mar. Perguntei o que estava fazendo e ela me respondeu:
- Quero que as baleias engulam minhas palavras, se acostumem comigo, saibam quem eu sou, pois no último dia de janeiro eu vou embora com elas.
Amanhã, eu voltarei à praia. A mulher disse que eu não preciso levar bagagem nenhuma.