30 janeiro 2010

Relato

Para Adriana,

Estive numa praia quase deserta com nome estranho, mais ao sul de onde vivo. Eu soube que baleias invisíveis a visitam nas manhãs de janeiro. Fazem filhos e gritos na rebentação. Só quem pode ver e ouvir são as vacas que pastam nos arredores. Elas levantam a cabeça, param de ruminar, como que exigindo silêncio e ficam embevecidas com o sexo e a voz das baleias. As pessoas do lugar já se acostumaram. Quem chega de fora admira-se com a postura das vacas e tenta a todo custo ver e ouvir baleias também, mas nada consegue além de salgar-se no mar bravio. Foi quando eu vi uma mulher engarrafar palavras e jogá-las ao mar. Perguntei o que estava fazendo e ela me respondeu:

- Quero que as baleias engulam minhas palavras, se acostumem comigo, saibam quem eu sou, pois no último dia de janeiro eu vou embora com elas.

Amanhã, eu voltarei à praia. A mulher disse que eu não preciso levar bagagem nenhuma.

Palavras emprestadas 16 - Nelson de Oliveira

Levando-se em consideração tão-só a qualidade, há, mais uma vez, dois tipos de escritor: o medíocre e o genial. O escritor medíocre é fácil de reconhecer. Basta ler duas linhas, dois versos, e lá está ele: inteiro, acabado, cheio de viço. Em cada sílaba a mesmice juramentada. Já o escritor genial não é fácil de reconhecer. Dele não basta ler duas linhas, dois versos. Cada página, um ponto de interrogação. Será que é? Será que não é? Titubeamos linha após linha, verso após verso. Aborrecidos, deixamos sua obra de lado. Dias depois, quando tornamos a ele, uma vez a insegurança. Será? Trocamos impressões com os amigos - tão indecisos quanto nós - e... sim! Trata-se de vinho, não de água. Soltamos foguetes e transformamos o novo gênio em patrimônio da humanidade. Mas por que o barulho? A genialidade é um acidente biológico que não deve ser perseguido a qualquer preço. Tanto o escritor medíocre quanto o genial procuram com sua obra granjear a estima da tribo. Por isso gastam apenas parte do tempo escrevendo. A outra parte usam para desocupar as estantes, a fim de colocar no lugar das obras do passado a sua. Algumas destas novas obras injetam sangue puro na cultura. A maioria, não. Quem se importa? Amor e morte, sexo e assassinato - os mesmos cinco ou dez textos primordiais têm sido reescritos e descartados há milênios. Descartados não, devorados. O nome do monstro? Literatura.

Nelson de Oliveira, in O Século Oculto e outros sonhos provocadores. Ed Escrituras.

22 janeiro 2010

já posso cortar os pulsos, mãe?

Vou até deixar desconfigurado mesmo...





17 janeiro 2010

Presente

Enquanto não arranco de mim texto algum para hospedar nessa casa,

Mara me faz feliz presenteando-me com um texto.

14 janeiro 2010

André Dahmer me usando

talvez eu não seja tão cínico quanto o personagem da tira, mas adorei ter meu nome como um dos personagens do quadrinista que eu mais admiro.


08 janeiro 2010

Revista Zunái

A Zunái - Revista de Poesia & Debates publicou uma seleção de seis poetas catarinenses com apresentação de Marco Vasques. Aos que aqui se hospedarem convido para uma visita à Zunái e ler um pouco dos poemas feitos nessa terra mais ao sul:
os poetas são:

Fernando José Karl ( cujo blog Nauttikon também merece a visita)
Ramone Abreu Amado ( o blog Pausa da Poesia não está atualizado, mas possui um arquivo que irá surpreendê-los)
Dennis Radünz
Rubens da Cunha
Péricles Prade
Rodrigo de Haro

06 janeiro 2010

I

Lá fora
a fêmea morte

aqui dentro
400 gritos

no limiar
um homem nu
nauseia-se

entre
moscas e detergentes