
27 fevereiro 2006
Um

25 fevereiro 2006
Sobre a Pálpebra da Página
Passem lá e apreciem um dos mais criativos sítios da blogsfera.
24 fevereiro 2006
Nove
® Rubens da Cunha
Luiz Miguel Nava
Luiz Miguel Nava me chamou atenção demasiado. Diz muito o que eu quero dizer, e da forma como preciso dizer.
Taí um poema do moço.
O TÍMPANO E A PUPILA
Num dos pratos o mar, no outro um rio, agora
que o tempo se desossa,
que as pedras
que piso se me enterram na memória e os caminhos
se me aguçam na alma como lâminas, o pão
molhado nas feridas,
o pão
ele próprio já também uma ferida, agora
que o tempo, que já tanto
compararam a um rio, mais
não é do que uma leve exsudação nos muros,
nas mãos, agora
que o céu se encrespa e que pedaços
de mundo arremessados
com toda a força aos olhos revolteiam
na treva antes de se extinguirem,
mais magro do que a neve
caminho, a alma aberta como uma ferida,
ao longo da memória, onde se fundem
o tímpano e a pupila.
Mais poemas aqui e aqui, na Revista Zunai,
Obrigado a Helena F. Monteiro, do blog Alicerces, que foi onde li pela primeira vez o Nava.
20 fevereiro 2006
Quatro
17 fevereiro 2006
Sete

16 fevereiro 2006
Justificando...
14 fevereiro 2006
Dois

Cabelos altos. Olhos vincados. Chumbo. Um retrato entorta a parede depois do amor mal feito. Nem suor nem mentira compõem estas horas ralas. Tudo o que temos é este degenerar-se na entrega, este ficar até o pó. Já sou a pele esfalerada, os dentros puídos. Sei que você também sofre a mesma escolha: ficar é igual a resignar-se, persignar-se neste altar de indiferenças. O que fizemos? Vejo em seu sorriso-vaso: 'o passado pouco importa, futurize a pergunta', desobedeço em silêncio e traição. Faço o que agüento nesta rotina de espera. Seu sorriso-porta me despede, me desorganiza os papéis. O amor quefoiumdia corta-se na cozinha. Tem mais coragem e sangue do que nós. Furto alguma pêra sobre a mesa e saio pelo outro lado da rua. Sem honra e sem paladar.
® Rubens da Cunha
10 fevereiro 2006
C. Ronald
um trato com a poesia
mesmo que não existam pressupostos
dentro do peito
nem adição de vento registro de óbito
escrúpulos
pensando menos
só para a cegueira se imobilizar no branco
és tu que escuto
toda a devoção humana coaxa com a pata
na lembrança
é preciso lembra disso quando estiver seca
dividir a mulher em duas presenças
salta!
o sofrimento é comum
depõe à força as damas virtuosas
a lua e as estrelas nervosas
que até invisíveis interferem
na tua faina
desculpa se não é a pé
que percorremos a nossa inconsciência
mas na limusine da velhice agora descoberta
As manias
1 - ordem alfabética nos livros e cds, mas a mania maior é julgar, mesmo internamente, quem não faz o mesmo.
2 - contar degraus.
3 - quando caminho, vou arrancando folhas das árvores e arbustos.
4 - leio, antes de tudo, o último parágrafo do livro em caso de prosa. Livro de poemas, leio o último verso.
5 - quero ver todos os canais de televisão ao mesmo tempo.
tem outras, mas estas deixo para os psiquiatras e para os padres.
07 fevereiro 2006
Profetas ofendidos.
Uns escravos amantes do fogo
Um disfarce-mulher
enlameia meus solados de chumbo.
Algum suor que me é de direito.
Ombros frios.
Eleições sob rifles.
Gelo nos cometas.
Barcos mortos no Egito.
Velhice antecipada.
Silêncio fazendo ninho nos olhos.
Pedra e caminho como no dizer daquele.
Eu sou dedos.
Riso-metade.
Totem de carne fácil.
Minto: dentro de um sexo-cofre bem guardado, nada existo.
® Rubens da Cunha
06 fevereiro 2006
C. Ronald
deseje também a impaciência mesmo condenada
branca ou amarela ou nem isso
em todo o caso anime o mundo elegante
da loucura com a criança diferente
pondo em atividade os átomos
e os mistérios de tantas outras
o perfil do réptil é uma carreira de breve
estória a língua estala e o inseto
dispara a surpresa sem vê-lo
significa um ritmo de horizonte
na divisão das coisas quando o sonho passar
e não se mexer pela nudez das fadas
dentro das fontes.
02 fevereiro 2006
Quando Deus morreu era um dia azul. Inverno. Estávamos todos ao sol. Lagartos. De repente, o azul do céu começou sangrar, primeiro foi um filete de sangue escorrendo pela abóbada, até se perder no horizonte, depois mais e mais até todo o céu estar vermelho. Deus sangrou devagar, pois não choveu sangue, como era de se esperar, tudo o que vimos foi o líquido escorrendo, como se estivéssemos debaixo duma redoma e alguém jogasse tinta sobre ela. Alguns ouviram gemidos. Não foi comprovado. Outros juraram ter visto Deus fugindo para Saturno, com Jesus, Maria, e mais alguns santos e anjos, também não foi comprovado. Desde aquele dia não tivemos mais notícias de Deus, comprovando assim sua morte. Ficamos tristes por um tempo. Luto mesmo. Deus cuidava bem de nós. Agora, passados dois invernos, o céu até está azul novamente: o novo dono usou as nuvens para limpá-lo. Chama-se Lúcifer. Diz que matou Deus porque não teve escolha, e só retornou para o que era seu. Não nos fez mal. Nos finais de semana desenha fogueiras entre as nuvens. As crianças gostam.
© Rubens da Cunha