
Logo ali nasce o Filho, meu irmão. Sou igual a ele, rarefeito a milagres de vento. Cimento em maldades, extenuações. Não evitamos a lepra desses dias. Meu irmão nascerá ungido. Dizem que morrerá para a salvação de muitos. Eu finjo acreditar em seus desígnios, eu finjo felicidades, que mais não posso. Foi me dado a palavra, a verve ensangüentada da blasfêmia. Tudo o que eu queria era ser fêmea, virgem, inocente no dia do nascimento de meu irmão. Faz parte de meus agouros não gostar do que sou. Saber que neste corpo transitam vontades irresponsáveis, fetos natimortos, abelhas e ovelhas. Meu irmão nascerá sem chorar. Nosso pai não lhe deu o direito. Nosso pai deveria transferir aos outros filhos este poder. Evitaria algumas incomodações futuras.
® Rubens da Cunha
Ilustração. Ariane Bazin