Já que alguns amigos apontaram um tom Manoel de Barros no poema abaixo, e eu estou sem palavras esta semana, segue um original manoelino. Meu preferido.
No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde a criança diz:
eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não funciona
para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um verbo, ele
delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é voz de fazer
nascimentos --
O verbo tem que pegar delírio.
Manoel de Barros in O Livro das Ignorãças
03 abril 2008
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6 comentários:
Manoel de Barros faz com a simplicidade de um poeta aquilo que Blanchot teoriza: desaparece na palavra sua função de representar um objeto para aparecer a função de criar uma realidade...há um processo de passagem da (ir)realidade da coisa à realidade da linguagem. "a palavra é admiravelmente a vida desta morte"
bravo!
belíssima escolha!
o comentário do Felipe acompanhou muito bem.
Ler Manoel é se sentir engrandecido, sei lá, num outro mundo, tão singelo e tão maravilhoso :)
abraço,
Í.ta**
Nussa, mas que ler Manoel no sábado pela manhã deixa vontade afinada de encontrar os amigos, daqui a pouco, no bate-bola...
Coisa de verbo que intertextualiza bíblia,,, mas é Barros dizendo da poesia como se faz, ela sozinha, uma vida independente...
Obrigado, Rubens...
Abraços e reproduzidas invenções!
"Eu escuto a cor dos passarinhos..."
Bonito poema, grande poeta.
Valeu a escolha, Rubens!
Desejo que tenhas uma semana cheia de verbos e de delírios.
Abraço
Esse pedacinho de manoel tb está no primiero post do meu blog...
Li muita coisa bonita hoje neste blog.Fazia tempo não saía pelo mundo a ler produções blogueiras.
Do tudo que li aqui, é tudo beleza.
Parabéns Rubens!
E ... bom saber que bebes em
manoéis de barro(s).
Os de barro são muito próximos
do que fomos feitos. E sabem, do
que nos vai nas tripas.
Abraço da Fatima de Laguna
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