Dentro do porão, escavo perguntas. Se aqui é escuro, lá será luz? Se aqui é úmido, lá será seco? Conheço somente arredores: frio domesticado à vela, umidade tempo todo, instinto sêmen pelas paredes, repressão mistério que não sei como nasceu cresceu. O que me repreende? O que me lançou inseto neste escuro? O pai e suas prostitutas? A mãe víbora igreja? O que me gestou pariu? São nadas de resposta corroendo, corroendo, equipando meu corpo vergonha. No alto, sótão onde estão libertos prazeres, onde outros desfilam girafas pélvicas, amanhecem alimento resto por sobre lençóis. Não eu. Haverá outros muares iguais a mim carregando um porão teso dentro da cabeça? O que me resta, entre uma pergunta e outra, é atrever-me instinto, destravar-me quase nos momentos em que abro a porta do porão e vislumbro azuis proibitivos. Pouco tempo dura a porta aberta. Tenho desde sempre o descostume do alto.
® Rubens da Cunha
22 março 2006
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12 comentários:
Se aqui é presença, lá será esquecimento?
A porta é imaginária. O porão não tem saída, meu caro. Gosto muito desse seu Seis. Bjos.
sempre me encantaram os porões...
um beijo
Dizem que os buracos, porões e outras fendas conduzem para um outro mundo.
hábraços
claudio
Déjeuner du matin
Jacques Prévert
Il a mis le café
Dans la tasse
Il a mis le lait
Dans la tasse de café
Il a mis le sucre
Dans le café au lait
Avec la petite cuiller
Il a tourné
Il a bu le café au lait
Et il a reposé la tasse
Sans me parler
Il a allumé
Une cigarette
Il a fait des ronds
Avec la fumée
Il a mis les cendres
Dans le cendrier
Sans me parler
Sans me regarder
Il s'est levé
Il a mis
Son chapeau sur sa tête
Il a mis son manteau de pluie
Parce qu'il pleuvait
Et il est parti
Sous la pluie
Sans une parole
Sans me regarder
Et moi j'ai pris
Ma tête dans ma main
Et j'ai pleuré
(Pagando promessas ;-)
Muito bem, desconstruindo para construir. Só assim construiremos um novo mundo... gosto da sua maneira de escrever!
amplexos,
Lucimar
O descostume, caro, não será porque o alto não passa de invenção?
O porão esta dentro de nós. Eu,de minha parte, sempre esqueço onde coloco as chaves, assim é claustrofobicamente mais agradável. Bom texto, meu caro.
Abçs
Gostei, Rubens.
Beijão
não sei como se escreve assim....
é belíssimo Rubens. mesmo.
beijo.
Ah, também eu tenho ' esse descostume do alto'!
Só agora me dei conta, Rubens, que não linkei voc~e lá nos meus blogues. É pra jpa: linko agorinha. ;)
beijo-beijo.
"cabeça de maur..."
pois sim, k os pensamentos se ruminam, a ruminam, os azúis são breves relances fugídios de k foge...E continua com os pensamentos....
Ganhamos nós k aqui paramos.
Bjs e :)
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