
O DESPREZO – SINÔNIMO DO ESQUECIDO
I
Senhora de pernas débeis,
a memória pouco suporta
caminhar nos estradões
inconfessáveis do sentir.
Propícia a tropeços,
fraturas e miragens,
é preciso dessendentá-la
antes que seque.
Antes mesmo que os ossos peçam,
é preciso descansá-la
à sombra do desprezo.
II
Menoscabo é caber menos
nos odres da lembrança.
Ser decomposição.
Deveras podre se pouco visto.
Conter-se, às escondidas,
na verdade incontida
daquele a quem desimportâncias
coabitam em disfarce.
Menoscabo é acabar-se.
É trazer atrás da máscara
somente rumores de rosto.
III
Incluir nos intermeios
da cabeça, não só a incúria,
totem abstrato do desapego,
mas toda a sorte de espera.
Agüentar nos ombros
o pesar vicioso da mudez,
como se de escombros
fosse densa a carne.
Ter nos eitos incinerados
da alma, não mais que a alma
de roedores pequenos e mortos.
IV
Desprezar: doar-se em
viagens no desconforto
da razão. Ser Visagem.
Assombração plena.
Imprecar esquecimentos
nos corredores da dor.
Carregar correntes. Tormentas.
Sancionar sustos à pele.
Descrer em horas e orações.
Transitar inferno em todo
menosprezo que não sabe rezar.
® Rubens da Cunha
Ilustração: Gary Kaleda
5 comentários:
_________________________doar-se!
__________assim!
bom fim de semana.
bjo.
p.s.(gostei de o ver em Plingrafias....um blog Fabuloso...)
poema aflito...doído...doloroso... como o desprezo
um beijo
palavras que nos mastigam...lentamente.
ai hospedo hospedo pq este texto-poema não é de se ler assim, à 1ª, como quem bebe e saboreia água da fonte.
Como tenho k voltar, cá me hospedo. Bom f.s. Bjs e :)
De passagem por suas paragens, gostei muito! Voltarei. Beijo.
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