10 outubro 2005

O Rancor - 2ª Parte


Ter aos dentes o riso terminado
ao meio. O siso arrancado por inépcia.
Hemorragia da raiz ao rancor.

Extrair do maxilar a concreção
do afeto: gengiva infecta. Vazio
de boca que esfuge de si qualquer

resto de beijo: epicentro de busca.
Ressentir-se molar ao mastigar
a solidão incisiva do abandono.

No limiar do descaso, quase à morte,
permitir que se espalhem as devidas
negruras da cárie por sobre a cara.
® Rubens da Cunha
Ilustração: Jorge Salort

6 comentários:

Fernando Palma disse...

Muito forte. Bela síntese de palavras!
Um abraço!

Cláudio B. Carlos disse...

Oi Rubens!

É sempre bom ler o que escreves.


CC.

Claudio Eugenio Luz disse...

Como sempre destilando palavras e levando embriaguez ao leitor.
..

..
hábraços

Anônimo disse...

Do que não será capaz a poesia? Transformar em beleza aquele ruído assustador da broca...:-)))
abração, Rubens. Tá cada vez melhor.

Anônimo disse...

Caro Rubens,

Mutio bom, incisivo, dente cravado com afinco. Texto e ilustração perfeitos. Bjos.

Helena disse...

O rancor com palavras rígidas que rangem, há uma estética nelas de musicalidade associada ao sentimento - dentes que rangem, carie que corrói, o rancor tem muito r mesmo...hehe
besos,

Mhel

Amei a ilustração - perfeita, soturna