21 outubro 2005

A língua: que falo!


“O que quer o que pode esta língua?”
Caetano Veloso

Quer pólvora, ponte, quimera. Mera ponta da Europa. Esta língua pode: abrasileirar-se, africanizar-se, aziar-se: Macau é aqui na esquina. Angola do outro lado da rua, aonde nois fumo, nois vai, nois vorta no vórtice da palavra, no vértice latino dos analfabetos:

— Seu nome? por favor:
— Aurélio, mas não sei ler nem escrever, meu senhor. Falar eu sei. Olha minha língua: diz tudo que preciso saber.
— Ok my friend? o importante é o speak up!

Esta língua quer viver na boca diária dos seus falantes. Quer ser mastigada com plurais e conjugações, temperada com orações subordinadas ao tempo. Esta língua pode ser/estar aonde nenhuma outra vai. Vaca de presépio. Arcaica no “vós temeis, vos sabeis, vós amais”. Vós não falais nem escreveis mais assim. Agora a voz é outra, menor. rápida e na tela do computador surge uma escrita mutante: “d ond vc tc?”, “daora vc ker tc aki?” “uia...eu tb toko guitarra”.
Falo e digo o que a língua lambe, mais que na escrita, é no vento que ela poetiza-se, puta de esquina, freira de claustro, mulher amarga e doce, barroca lavadeira esfregando-se mundo afora. A língua agüenta. O que não agüenta é o ouvido.

Let´s go my dear! Vamos ver como é bonita a linguagem dos índios afrotugueses que habitam aquele país ali embaixo.
Rubens da Cunha

3 comentários:

Anônimo disse...

Grande texto, Rubens...e grande língua a nossa: aqui deste lado do charco penso/sinto o mesmo...

Abraço.

Cláudio B. Carlos disse...

Oi Rubens!


Muito bom!
Muito bom!
Muito bom!
Muito bom!
Muito bom!



Abraços do CC

Anônimo disse...

Gostei muito! Em especial da frase "é no vento que ela poetiza-se, puta de esquina, freira de claustro, mulher amarga e doce..."

Grande abraço, Íta.