
Antes de sermos dor somos cavalo:
galope nos canteiros da inocência.
Arcabouço de flores consumidas
em noites de batismos e presságios.
Antes de sermos sangue somos cárcere:
verbena soterrada no desejo.
Cadafalso de culpas destiladas
assassinando peles e destinos.
Antes de sermos ar somos advento:
nascedouro de sombras indivisas
gestando despedidas em segredo.
Antes de sermos cais somos inveja:
ancoradouro tácito do olhar
sobre a face feérica dos sonhos.
® Rubens da Cunha
Livro: Visitações do Humano
Ilustração: Luiz Henrique Schwanke
5 comentários:
Beleza de soneto, Rubens. Acho que já o conhecia: "Antes de sermos dor somos cavalo" foi tema na OE, não?
Abração!
Sem dúvida, excelente construção. Inveja tracando em sonhos. Bela ilustração.
Não preciso dizer o quanto gosto das coisas que vc escreve. (Ainda que goste mais ainda dos apelidos que vc anda tendo...)
Vou ler seu blog inteiro novamente. Hoje a liberdade me pegou de surpresa e me bateu no rosto, espancou as costas, beijou minha boca. Hoje a liberdade me fez ver que na verdade, sempre fui tudo o que sonhei, que as coisas que pensei realmente eram do jeito que eu achava, enfim, que sou/estou/tenho tudo o que preciso, sem na verdade precisar de nada.
É bom sentir a liberdade vindo do lado de fora, sem ter que sofrer com algum processo, sem ter que me descabelar chorando escondido noite à dentro, sem precisar da catarse sempre causada pelo sofrimento proporcionado por algum ferimento ao ego.
Estar livre é estar completo, sou mais completa porque realmente sou eu mesma.
E estou rindo que nem uma boba.
Manda seu endereço! Tenho coisas para te mandar.
Belo... Abraços
Essa sua poesia me lembra muito muito muito o estilo dos poetas do Clube da Esquina: isso é Fernando Brant, Márcio Borges, Ronaldo Bastos, purinho purinho!
Bem que o Milton Nascimento podia musicar a sua Litania para o próximo disco! hehehe
Abração!
Postar um comentário