20 setembro 2005

Filmes

Dogville
de: Lars Von Trier

Mais um filme do maior manipulador de emoções do cinema atual, Mr. Lars Von Trier. Resolvi rever para ter uma percepção melhor. Um dos mentores do Dogma, movimento dinarmaquês que pretendia revolucionar o cinema, mas se mostrou mais uma jogada de marketing, Von Trier criou um espetáculo de 3 horas distanciado dos elementos naturais do cinema e extremamente próximo do teatro: cenário único, sem paredes, mímica, atuações imponentes, desenhos no chão para identificar ruas, casas, e até o cachorro, importante personagem na trama. Também houve uma proximidade, esta a meu ver mais perigosa, com a literatura, colocando um narrador em off e em terceira pessoa, emitindo as opiniões políticas e filosóficas de Von Trier. Como em Dançando no Escuro, Von Trier nos propõe: "aceite-me como seu guia, vire um fantoche nas minhas mãos, que no final do filme você estará chorando muito, mas com a sensação de ser uma pessoa inteligente e sensível, pois eu sou inteligente e sensível". Quem embarca, adora. Quem não embarca fica com aquela cara de que está vendo uma emoção fabricada. Em Dançando no Escuro não embarquei na proposta do diretor. Em Dogville, lá estava eu, duas vezes, chorando e torcendo pela heroína. Uma gigante e corajosa Nicole Kidman. Para certas mulheres a separação só faz bem. Nicole é o exemplo máximo disso. Nenhuma outra estrela hollywoodiana enfrentaria o que esta atriz enfrentou em Dogville. Enfim, o filme como peça política, tenho cá minhas dúvidas, mas como cinema apresenta umas idéias muito criativas. Cena maior: o estupro sem paredes. De arrebentar o coração.



Procura-se um amor que goste de cachorros.
De: Gary David Goldberg.

Sim, eu sou um viciado. Na província o cinema é o que todos nós, moradores, sabemos. Mas eu não agüento sem ir na sala escura. Quando vi, lá estava eu assistindo Procura-se um amor que goste de cachorros. Uma comédia romântica que desfila as agruras de uma trintona descasada, na busca de um amor pela internet. O único elemento interssante do filme é o elenco: os sérios e talentosos Diane Lane, John Cusack, fazem o casal de pombos apaixonados, a sempre clássica Stockard Channing fazendo talvez a mais digna personagem do filme, pois ela foi muito próximo do ridículo, mas manteve a humanidade.
De resto é aquilo de todas as comédias românticas americanas: casalzinho se conhece, se apaixona, briga, separa, volta e é feliz para sempre.
Os atores conseguiram pagar o condomínio e eu resolvi minha crise de abstinência com mais um pouco de droga.


O Iluminado
de: Stanley Kubrick
Certa vez vi O Iluminado numa madrugada na Globo, ou seja, eu nunca vi O Iluminado. Vi na Cidadela Cultural Antarctica. Apesar de estar atrás de mim uma garota, daquela que o colunista do Globo, João Ximenes Braga chama de cinéfilo cão-guia, o tipo que vai dizendo, "agora ela abre a porta", "agora ela sobe a escada", (no blog do Ximenes tem mais uns tipos destes chatos, se bem que a garota era mais uma cinéfila-juíza, condenava insistentemente a atitude dos personagens). Mas deixemos para lá e vamos ao filme. Um Kubrick em alta forma. Apresenta sequências memoráveis, centra sua câmera nos atores, no portentoso hotel que serviu de locação, um espaço gigante que fica vazio no inverno, conta com um Jack Nicholson inspirado e uma pseudo-frágil Shelley Duvall, o garoto não é nenhum Haley Joel Osment, mas segura as pontas.
Muita técnica kubrickiana, sustos bem colocados, construção intermitente do clima. Nos tempos de sangue, sangue e mais sangue para dar sustos, as irmãs fantasmas do filme já podem não assustar mais, mas as sobrancelhas erguidas de Nicholson ainda causam uns arrepios na espinha.
® Rubens da Cunha

6 comentários:

Anônimo disse...

Dos três, eu fico com o Iluminado. Sem nehuma dúvida. Nenhuma!
Abs.

Anônimo disse...

Se tivesse mesmo de escolher um dos filmes eu cairia no abismo de Dogville.
É um abismo infindo aqueles olhares, o caminhar, cenário... sei lá, é mta coisa q completou o filme e tirou-o do plano cartesiano.
Sem palavras p Nicole Kidman, sem palavras para o cachorro e sem ar para a cena do estúpro.

Anônimo disse...

Gostei das dicas (eram "dicas"?)de cinema. Interessante Dogville. Vou assistir.

[jb]

Anônimo disse...

putz...preciso ir ao cinema, urgente...(não conhecia esse teu viés cinéfilo). Sobre "Cama", não sei como ainda consigo me surpreender com tua capacidade de tratar a palavra. A Casa tá cada vez mais hospitaleira.
abraço!

Claudio Eugenio Luz disse...

Apenas 'o iluminado', na minha opinião, é uma obra de gênio. Dogville, vi e não gostei. Teatro, prefiro no tablado. O outro, não conhecia.

Anônimo disse...

Conhecendo tua casa hoje e, não pude evitar comentar 'O iluminado'. Kubrick é um gênio, autor de várias obras-primas. 'o iluminado' é uma elas, com certeza. Pra mim, o maior filme de terror de todos os tempos. Assustador, na mais perfeita definição do termo. Claustrofóbico, o medo toma conta do filme aos poucos, como a insanidade toma conta do personagem de Nicholson (soberbo). Kubrick teve o filme na mão, roteiro, atores, edição, fotografia, som. E, apesar de ser nota dez, ainda não é o melhor de Kubrick. Para mim, Kubrick é insuperável em 'Glória Feita e Sangue', '2001' e 'Laranja Mecânica'. O homem era um gênio,daqueles que o cinema dificilmente verá nascer igual.

Saudações do Cárcere