03 novembro 2015

Nos trilhos


Ele, um halterofilista tardio, com ralos cabelos cacheados, num louro talvez falso, talvez apenas gasto pelo tempo.
Ela, baixa, ancuda, pernas e barriga de fora. Sente calor e tem o corpo desenhado pelo suor.

E namoram atrás da velha estação ferroviária. Adolescem-se em beijos, afagos.

Ele, sentado, sem camisa, expondo o grande peito liso.
Ela, deitada em seu colo, vendo a metade daquele homem debaixo pra cima.

São corpos simétricos na tarde de sábado.

E beijam-se, ternos e agudos.

E riem da possante inveja dos passantes que não amam.

3 comentários:

Maeles Geisler disse...

crônicapoema linda e doce, uma nova fase do escritor Rubens da Cunha.
tarde de sábado especial.

Elimacuxi disse...

Invejo a imagem
do amor deles,
das palavras tuas.
Rubra
cubro de beijos as invejas nuas
e me alimento da tua lavra
nessa paragem que a solidão atenua.

Tiago do Valle disse...

O amor alheio incomoda mesmo algumas pessoas. Sua arte não é em vão. Voltarei porque o material por aqui é abundante e a qualidade mais abundante ainda.