15 setembro 2015

Um chão sob os pés

E caminha na lentidão exigida pelo corpo, os braços meio abertos, arqueados para o alto, nunca pude abaixar meus braços, diz quase entre lágrimas. 

E me pede para ajudá-la a atravessar a rua, tenho medo, mesmo tendo o farol, me diz. 

E esperamos o sinal abrir, eu na expectativa de ser um farol verde capaz de permitir o avanço. Vejo-me tão mais alto, tão mais normal, tão dentro dos espectros. 

E ela fantasma meu corpo são, meu corpo caminhado. 

E o sinal abre, eu lento os passos para acompanhá-la naqueles 23 metros de pista, ela afunda-se sobre o asfalto, segue segura ao meu lado, eu desnivelo-me, asfalto-me naquela rota que não é minha. Estamos chegando.

E os carros, os prédios, os barulhos asfixiam nosso encontro. Tonto me despeço. 

E ela agradece olhando vazios enquanto me olha. 

 



 

Um comentário:

Jaime Portela disse...

Um gesto nobre num nobre texto.
Fluido e assertivo, para além de poético.
Gostei imenso.
Rubens, tenha um excelente semana.
Abraço.