28 outubro 2009

Palavras Emprestadas 15 - Al Berto

A escrita é a minha primeira morada de silêncio
a segunda irrompe do corpo movendo-se por trás das palavras
extensas praias vazias onde o mar nunca chegou
deserto onde os dedos murmuram o último crime
escrever-te continuamente... areia e mais areia
construindo no sangue altíssimas paredes de nada

esta paixão pelos objectos que guardaste
esta pele-memória exalando não sei que desastre
e língua de limos

espalhávamos sementes de cicuta pelo nevoeiro dos sonhos
as manhãs chegavam como um gemido estelar
e eu perseguia teu rasto de esperma à beira-mar

outros corpos de salsugem atravessam o silêncio
desta morada erguida na precária saliva do crepúsculo.


Al Berto
In: O Medo - trabalho poético 1974-1997

Livro que a Alessandra me mandou de presente, a quem agradeço por ter me jogado dentro de uma obra lancinante.

3 comentários:

Alessandra disse...

ha! to mega feliz por estar lendo o al berto. sabia que vc ia gostar!

beijo enorme e depois comento seu comentario no meu blog.

ha! vc me deu o osman lins, especialmente avalovara. eu te dei al berto. XD feliz, feliz.

ítalo puccini disse...

que coisa mais maravilhosa!

belo presente, hein?!

bela escolha de trecho.

grande abraço.

ítalo puccini disse...
Este comentário foi removido pelo autor.