07 dezembro 2005

Autores Catarinenses: Dennis Radünz

Dennis Radünz

O mais influente e articulado dos poetas jovens que vivem em Santa Catarina. Dennis é um 'olheiro' de novos poetas (eu fui um dos seus olhados) profundamente sensível e atento. Atua como cronista no Diário Catarinense e é também editor. Autor dos livros de poemas: Exeus e Livro de Mercúrio.

numa entrevista Dennis respondeu:

O que é um bom poeta?

Dennis Radünz - É aquele que a princípio tem uma leitura da tradição da poesia e que sobre ela saiba adicionar a sua identidade. Não é aquele que apenas detém um conhecimento enciclopédico da história da literatura, mas que acrescenta um dado novo a essa tradição, ou seja, é aquele que avança, que dá nova significação para o mundo. O valor de um poeta contemporâneo é ter uma atitude abissal em termos de renovação, mesmo que isso, por limitações às vezes de formação cultural ou pelo fato de sermos brasileiros, seja relativo em termos absolutos. É preciso ter um compromisso de renovação da história da poesia pelo menos no seu nicho cultural, na sociedade, no Estado e principalmente no seu idioma. Um bom poeta é aquele que sabe se distanciar de si. De que modo? Lendo os seus antecessores, mas que ele também saiba dialogar com eles, acrescentando sua voz pessoal

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Poemas:

Exeus
Editora da Ufsc / Letras Contemporâneas
2ª ed. Revista e ampliada
1996, 1998




As Medulas

Arnautz vol sos chans sia ofertz
lai on doutz motz mou en agre.
Arnaut Daniel


nominar a mulher em batismo de lábios
e rebear babéis na bíblia do olhar -
não-lugar

sem sinas e sendas ou assassínios
(larvs de iras em línguas de íris:
aram-se)

sem genes de jugo ou gozo de algoz
(almas de lumes em lagunas de sons:
aluam-se)

medulas: nervuras-névoas


Habite-se

arma-se em riste
o rumo das casas:
no cume do morro, o morto
vive, porém pouco
a arcatura do osso
no humo, no gume do morro
sem autópsia nem teopsia
o morto
é
fantasia arquitetura
o corpo



Livro de Mercúrio
Ed. Letradágua
2001










Casas Noturnas (II)

a casa acesa em cinza insone
no alheio sono dos anônimos

o cisma insano de arredores
onde os ânimos são nômades

a casa ilesa em chamas some
a ânsia: ócios: coisas: nomes


Sambaqui

nos sulcos lenhosos dos corpos,
as achas, em chamas de mortos
fetos, feitos moluscos nas rochas,
ou tochas, na foz do crepúsculo:
a dor da fagulha figura nos ossos,
os olhos, em conchas: albatrozes,
botos, peixes-cofre
ou pássaros suspenso na cópula

4 comentários:

Anônimo disse...

O Dennis esteve aqui na Unerj há umas tres semanas, mais ou menos, batendo um papo conosco. Pude conversar bastante com ele,inclusive disse a ele que eu conhecia vc : )
gente fina ele. gosto pacas do que ele escreve.

abração, Íta.

Ricardo Mainieri disse...

Rubens :

Dennis fez uma afirmativa em sua entrevista de que o bom poeta tem o conhecimento da literatura anterior a sua e acrescenta sua marca pessoal.
Isso se torna explícito em sua poesia que respira erudição, acrescentando um ritmo limpo e imagens inusitadas.
Excelente poeta, digno de um maior reconhecimento nacional.

Abraços.

Ricardo Mainieri

Cláudio B. Carlos disse...

Sempre com boas indicações...

Obrigado.


CC.

Helena disse...

Lindo poema. Amei.

besos,

Helena ( aproveitando a guilhotina das letrinhas para matraquear )