11 outubro 2005

Filmes

Lavoura Arcaica
De: Luiz Fernando Carvalho
2001

Finalmente em dvd, um dos mais ousados projetos do cinema brasileiro. Luiz Fernando Carvalho é um esteta exigente, criou um filme que se afasta do cinema e ampara-se completamente no teatro e na literatura. O livro de Raduan Nassar é um texto complexo, quase barroco, profundamente poético na sua construção. Todas as falas do filme são as falas do livro, além de grandes trechos narrados em off. Ou seja, se você gosta de realidade e coloquialidade, passe longe, porque o ódio será certo, agora se você, como eu, gosta duma linguagem exasperada, um jorro de culpas e desejo, um erotismo reprimido pela família, sistema, mundo, Deus, então este é o filme e este é o livro. Recomendo os dois ao mesmo tempo, de preferência.
Selton Mello é espetacular, prestem atençao nos pés do ator. Juliana Cunha faz as cenas mais comoventes e silenciosas. De partir o coração. Raul Cortez é grandioso na sua rigidez como o pai cheio de moral e parábolas. O visual acompanha o texto, apesar de determinados momentos não conseguir fugir da redundância: imagem mostra o que o texto está falando. De resto, quase três horas de grandes interpretações, de alta literatura e de um cinema-teatro corajoso, porque não optou por fórmulas fáceis. Para assistir gritando de dor e agonia diante da beleza trágica do desejo.
Cena máxima: André tentando convencer Ana, a irmã, viver com ele, não conseguindo, exaspera-se sobre o altar da capela. O gesto de segurar o sexo e a fala agressiva causam alguns tremores internos.

Lolita
Stanley Kubrikc
1962

O filme de Kubric, apesar de toda a força, ficou datado. Sua igenuidade não cabe mais no nosso tempo amoral. É praticamente impossível vê-lo com olhos de agora, tem que se fazer a transposição para os anos 50/60, coisa que não acontece com filmes como "O Pecado de Todos Nós" ou "A Malvada". Lolita e Humbert não se tocam de maneira sensual, ficando tudo nas entrelinhas. Eu gosto de entrelinhas, mas o livro de Nabokov era bem mais explícito do que pode ser Kubric na época em que filmou este Lolita. Sue Lyon está adulta demais. A personagem no livro tinha 12 anos, a atriz, 16 com cara de 20. O desejo sem barreiras proposto por Nabokov não se fez presente no filme de Kubrick pois o cinema precisa sempre de mais coragem do que a literatura para tratar de temas polêmicos. Eu seria enforcado ao afirmar que o Lolita de Adrian Lyne é melhor que este de Kubrick? Aqui, uma análise psicológica bem interessande dos personagens.

4 comentários:

Cláudio B. Carlos disse...

Olá Rubens!

Agradeço a gentileza de linkar-me em tua CASA DE PARAGENS. Valeu!

Vou linká-lo lá no BALAIO DE LETRAS.

CC.

Leila Silva disse...

Rubens,
Eu não vi ainda o Lavoura Arcaica, mas está na lista.
Quanto ao Lolita, adoro o livro (eu e Mhel já falamos bastante dele). Não vou apedrejar não...rs..até pq eu só conheço o Lolita de Adrien Lyne, neste acho que a atriz tem quatorze anos, segurou bem, na minha opinião. Se for para comparar ainda prefiro o livro. Um dia desses vou ver o Lolita de Kubrick e falaremos mais a respeito.
O Blog continua ótimo, eu venho sempre, mas sou peguçoooooosa para comentários.
Beijos
Leila

Helena disse...

Amado,

Minha filha amou Lavoura arcaica e recomendou entusiásticamente - não li o livro que está na minha lista de um bilhão e quatro indispensáveis. Agora Lolita é quase infilmável - eu amo de paixão, para mim é um tratado de como eu sou... hehe mesmo sem ser pedófila. É um trastado de inadequação e unicornice.

Seu blog sempre dez.

beijão,

Mhel

Helena disse...

errata - trastado deve ser alguma tese sobre trastes hehehe dedinhos nervosos - é tratado em swalli, (óbvio)