02 junho 2016

A guardadora da ponte




Há uma mulher que cuida da cabeceira da Imperial Ponte Dom Pedro II. 

Seu corpo arqueado, o queixo quase sempre grudado ao peito, o olhar de baixo para cima e o senho franzido disfarçam os conluios que esta cuidadora tem com o Rio Paraguaçu. 

Em noites desestreladas, ela mergulha na salobridade do rio. Passa horas entre as pititingas, os camarões e siris. Atravessa-se na poluição oleosa e fecal das águas. 

Sabe de peixes e de crustáceos tanto quanto sabe dos restos dos homens e mulheres que habitam às margens. 

A cada um de nós, ela desvela com seu olhar salobre 
e a loucura de quem pode guardar pontes, 

sem nunca ter que atravessá-las.  

Nenhum comentário: