12 dezembro 2009

Uma vida em 13 degraus - Décimo Terceiro degrau

Retiram-me da cela. Talvez eu já tenha morrido. Tratam-me como morto. Ouço um ainda bem, menos um para incomodar. Ouço barulhos demasiados. O que será que esse fez? acho que esse era aquele que matava mulheres e gozava nelas. Credo. Como tem gente imunda nesse mundo. Pois é, mas era louco, imundo e louco. Nunca fui louco, estou no décimo terceiro degrau de minha vida, nunca fui louco, tudo o que eu quis era um pouco de prazer. Que culpa tinha eu se meu prazer era sangue e esperma, se era a morte do outro que provocava meu gozo. Levam-me para não sei onde. Necrotério. Mas ainda vivo, ainda estou prenhe de vontade de viver, e queria tanto mais dois degraus, só mais dois, um sepultamento e uma ressurreição. Voltar melhor, mais ameno, quem sabe? ou pior, mais inteligente, pois o que me faltou foi inteligência para apagar os rastros. O que me faltou foi perspicácia de que os homens tem desejos mas não os cumprem, tem vontades mas não saciam nenhuma delas, ficam apenas caçando quem consegue por em prática o mais fundo de si. Eu consegui. Mesmo tendo quase nada entre as pernas, eu consegui ser homem e gozar em outros buracos para além do natural. Eu consegui, quantos conseguem isso? Eles estão rindo, pegam Nele e gargalham, coitado, não é à toa que virou psicopata, com essa mixaria, até eu. Saiam daqui vampiros, gentalha menor, o que pensam que eu e Ele somos? Vísceras? eu não estou morto, tenho mais dois degraus, ouviram, tenho mais dois degraus para alcançar o céu. Eu não posso ficar preso aqui, aqui não é meu lugar. Verônica, vem me salvar, Simão, Simão, eu não te matei, eu te deixei livre, vem me salvar, vem me dar o direito a uma ressurreição. Começam a me cortar, eu não morri, grito, grito, e não me ouvem. Se eles fossem iguais a mim, entenderia, cumpriria meu papel de vítima, mas eles me cortarão, me examinarão, e não vão derramar sua porra nos meus buracos. Eu mereço isso, eu mereço que alguém me fure e goze na minha ferida, eu mereço estar do outro lado, já que não terei mais meus dois degraus, já que não serei sepultado nem ressuscitado, serei apenas um corpo jogado fora. Lixo, nada, estrume, comida para as cobras-cegas que eu matei, eu mereço porra nas minhas feridas. Rasguem-me a boca, encham meus buracos de esperma, o que estão esperando, parem de rir, parem de fazer gracinhas com Ele. Ele sou eu. Eu sou Ele, não entendem? Fui o que fui porque Ele me fez assim, essa mixaria, esse nada, esse diminuto me fez assim. Saudade da mãe e da filha. Saudade daqueles dias de contentamento aparente. Minha mãe, onde anda? e Meu pai, será que eu herdei o nada entreaspernas dele? queria ter gozado no meu pai, era isso que eu precisava ter feito. Se em vez de despedaçar insetos, se em vez de furar cabras, bezerras, putas eu tivesse furado meu pai, gozado nele, atribuído a ele o que sou, eu teria meu dois degraus, eu seria mais feliz. Eu não estaria aqui, aberto que nem um porco, sem grito, sem porra na ferida, sem gozo nenhum. Sem meus quinze degraus.

6 comentários:

ítalo puccini disse...

gostei tanto que fiz link lá no blog.

parabéns!

abraço.

Juliana Carvalho disse...

Rubens

Parabens.. Gostei bastante dos teus textos e do teu estilo de escrita.
Estou lhe deixando o link do meu blog: http://mariodeganelli.blogspot.com

Abraços

........ disse...

13 degraus: poeta do silencio, criminoso da palavra.

........ disse...

ah esqueci de dar os parabéns.

abraço Rubens

Ricardo Valente disse...

Vc colocou um resumo. Pareceu-me que no meio do caminho, trancou algo grande, que quis sair. Minha opinião pode ser nada a ver, mas é ela. Daria UM LIVRO essa história dos 13 degraus.
Abraço!

Sandra Silva disse...

É sempre assim...
Esse ciclo vicioso quando se lê algo que cala na garganta e faz os dedos embaralhan-se sem conseguir escrever; afinal, depois de certos textos, escrever mais o quê?

Bj na testa

PS: encontrar alguém que goste de Lavoura Arcaica é algo que renova minha sensação de anormal!!!
Santa anomalia que me salva dos clichês nossos de cada dia!!!