Tarde de folga. Ligo para esposa. Vou passear, comprar umas coisas que preciso. Depois pego o Júnior na escola. Centro da Cidade. Quase nunca venho aqui. O Instinto me guia. No cinema, um cartaz úmido com dois homens nus. Entro. Sempre tive vontade. O desejo de estar em um cinema de pegação concretou-se há muito em mim, a coragem é que nunca esteve próxima. Escuro. Ascotumar os olhos, acostumar as pernas para que parem de tremer. Olho para a tela. Um borrão qualquer em que quatro homens trafegam-se. Ouço gemidos para além do filme. Ao meu lado, vários. Quantos iguais a mim: fugidos, fugidios, duplos? Um qualquer se aproxima, carinha-me o sexo, ajoelha-se à minha frente. Desabotoa minha calça, desabotoa minha vida. Engole-me. Esvazio-me em sua boca. Já não sei quem sou. Pois o que eu era agora atravessa a garganta do outro, que já nem está mais aqui. Nada mais diviso. Aéreo, saio do cinema. Amanhã eu retorno. Amanhã, eu vou ajoelhar na frente de alguém para ver se volto a ser o que eu era.
® Rubens da Cunha
® Rubens da Cunha
8 comentários:
Sabe, esse nove me lembra muito o "lugar-comum" a que vários noves se destinam. Nesse desejo travestido de angústia. Um desejo que escorre nos guetos. Ainda. Um beijo!
Meu caro, quantas vezes não precisamos nos ajoelhar para redimir- resgatar a nossa dimensão humana?
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hábraços
claudio
quantas vezes nos perdemos de nós mesmos... de tantas maneiras... por arriscar... por não arriscar... mas penso que sempre ganhamos quando nos desvendamos.
um beijo
Caramba!
Gostei.
*CC*
....pois é....Rubens, faz muito bem em gostar do NAVA....é uma excelente escolha....
e (voltar a ser o que era....).
abraço. presumo que com mt sol.
Ainda atônita...mas ótimo texto...
WoW!
Forte, este nove. Gostei de novo.
Abraço
Nossa! Esse 9 é DEZ!
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