É dia sete de dezembro.
Seu Pedro veste uma roupa qualquer e desce a longa ladeira da rua Varis-Trada até o Banco do Brasil para pegar sua aposentadoria.
Tem 70 anos e nunca deixou de usar bico.
Chupeta, como dizia sua finada mãe, que morreu com o desgosto de ver o filho usando, dia e noite, o artefato infantil
Nunca fiz mal a ninguém, trabalhei como um jegue, não casei, não tive filho, mulher há muito não tenho, a única felicidade que me permiti foi usar bico, se defende seu Pedro.
No começo, escondia mais.
Agora, sabe que não lhe restam tantos anos. Vai ao banco, ao supermercado, ao posto de saúde, à prefeitura sempre com seu bico branco bem encaixado na boca.
Em alguns percebe o constrangimento, o susto, aquele comum estranhamento de gente infeliz.
A cada um deles retribui com um escancarado sorriso por trás do bico.
07 dezembro 2015
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2 comentários:
Nunca vi um adulto usar o bico (chupeta, em Portugal).
Mas a reação das pessoas que deparam com o Seu Pedro de chupeta deve ser interessante.
Rubens, tem uma boa semana.
Abraço.
Da candura de permitir-se.
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