A escrita é a minha primeira morada de silêncio
a segunda irrompe do corpo movendo-se por trás das palavras
extensas praias vazias onde o mar nunca chegou
deserto onde os dedos murmuram o último crime
escrever-te continuamente... areia e mais areia
construindo no sangue altíssimas paredes de nada
esta paixão pelos objectos que guardaste
esta pele-memória exalando não sei que desastre
e língua de limos
espalhávamos sementes de cicuta pelo nevoeiro dos sonhos
as manhãs chegavam como um gemido estelar
e eu perseguia teu rasto de esperma à beira-mar
outros corpos de salsugem atravessam o silêncio
desta morada erguida na precária saliva do crepúsculo.
Al Berto
In: O Medo - trabalho poético 1974-1997
Livro que a Alessandra me mandou de presente, a quem agradeço por ter me jogado dentro de uma obra lancinante.
28 outubro 2009
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3 comentários:
ha! to mega feliz por estar lendo o al berto. sabia que vc ia gostar!
beijo enorme e depois comento seu comentario no meu blog.
ha! vc me deu o osman lins, especialmente avalovara. eu te dei al berto. XD feliz, feliz.
que coisa mais maravilhosa!
belo presente, hein?!
bela escolha de trecho.
grande abraço.
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