07 junho 2009

Capítulo V

O tempo se encarrega dos gemidos.

A mulher vez ou outra olha a saída.

Poderia ir. Deus ia me ajudar. Fugia daqui. Velha demais. O marido foi.

Ela olha os pés. Gravetos de carne frouxa.
Prepara o pão de milho. Tudo feito ali. Tudo feio nesse buraco ilha.
Certa vez comeu pão branco. De trigo.

Sonha ainda.

O filho cuida da roça.
Anda cada vez mais torto.
Não só as costas.

Ontem veio dizendo que a terra o chama todos os dias, por isso tem que andar de quatro, para por os ouvidos mais perto do chão.

Não posso perder, mãe, não posso perder o chamado da terra.

8 comentários:

Enzo disse...

por que que eu sempre tenho vontade de tirar a última frase dos seus textos?

e por que eu sempre me arrependo depois?

não me te entendo...

Hélio Jorge Cordeiro disse...

Morte e Vida Severina!

Diego Brito disse...

Eu também já comi pão de trigo.
Muito lindo o trecho do pão.

Unknown disse...

O que me encanta é a literatura que te tira da cadeira onde você está sentado e te ambienta com cheiros e cores.
Você é um grande escritor, Rubens.

_vera_ disse...

a qualidade, estranha, de sempre:)

Lua em Libra disse...

Rubens!!

Que texto forte, este. Os ouvidos pertop da terra que chama, o trigo sonhada no lugar do milho. Dá pra sentir estas dores, se dá!

CASSIANE SCHMIDT disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
CASSIANE SCHMIDT disse...

"O tempo se encarrega dos gemidos"...

Uma das mais belas frases que ja li, das mais intensas que ja senti.

Abraços
c.