Mãe e filho.
Animais nos seus lugares.
Cumprem as funções estabelecidas. Envelhecem.
A mulher, viúva, encarde-se.
O filho focinha os cantos da casa.
Já pareceu mais bonito aos olhos da mãe.
Agora que desponta em pêlos e catingas vindas pela idade
a mãe começa a preocupar-se:
Danado esse menino. Crescido assim, logo ganha mundo e me deixa sozinha. Tenho que fazer alguma coisa.
A mulher chora pelos cantos.
Ladainha dia após dia.
E Deus pai perdoai esse teu filho sozinho
e Deus pai dai a nós saída desse mundo
O filho engraça-se cada vez mais com os bichos.
Vem dormir menino.
Vou não. Hoje fico aqui com a égua e as galinhas.
30 maio 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
7 comentários:
Vidas de engano...
Acaba sempre por chegar uma altura em que se toma verdadeira consciência de que os filhos têm vida própria.
Bjs
Rubens, o poeta Iglu! rsss
Receita: Sopa, bacia com água quente com folhas de laranjeira, uma garrafa de merlot, um livro que viveu encostado por meses até ser coletado pra uma leitura em dias de frio como estes e a esperança de que alguém toque a campanhia e diga: Brrr...Cê tem um tempinho pra mim, hoje?
Os odores são os primeiros indícios de que começarão os melhores pecados!
Isto é que eu chamo de grandes começos: galinhas e éguas! Depois se seguem, empregadas (os), primas (os) e vizinhas (os).
É, eu gostava mais da porca.
Muito bom, tem mais?
Ah, falando em gostar... Estou adorando as crônicas que você e a Clotilde Zingali estão escrevendo pro AN :)
Oi Rubens,
Parabéns pelo blog. Sou poeta e cronista e criei um blog pra divulgr meu trabalho. Se puder, dê uma passada por lá. Grande abraço!
SUJEITO OCULTO (Victor Colonna)
O problema são as conjunções desconjuntadas
As interjeições rejeitadas
Os adjetivos desajeitados
Os substantivos sem substância
As relações de deselegância entre as palavras.
É preciso superar o superlativo:
O absoluto sintético
E o analítico.
Achar o verso
Entre o verbo epilético
E o pronome sifilítico.
Falta definir o artigo inoxidável
O numeral incontável, impagável.
Resta procurar o objeto direto
Situar o particípio passado
E o pretérito mais-que-perfeito
Desvendar a rima
Desnudar a palavra
Encontrar o predicado
E revelar o sujeito.
UMA FESTA JUNINA DIFERENTE
Em alguns dias começarão as festas juninas.
Quando eu tinha 6 anos comecei a fazer o primário na Escola Roma, em Copacabana, que todos os anos fazia uma enorme festa junina na Praça do Lido. Fiquei esperando durante semanas a tal festa, onde seria sorteada uma bicicleta, meu sonho de consumo de então.
Finalmente o grande dia chegou. Era início de tarde e eu e meu pai já estávamos na praça, eu encantando com as barraquinhas coloridas de prendas e comidas e com a esperança infantil (toda esperança não é sempre um pouco infantil?) de ganhar a bicicleta.
Pois não haviam-se passado nem 15 minutos quando ouviu-se um burburinho na multidão. A menos de um quarteirão de distância um carro estacionado (sabe-se lá porquê) havia explodido.
Meu pai, que era jornalista, estava com uma Nikon para me fotografar; me puxou e começou a tirar fotos do carro em chamas. Ao terminar, ajoelhou-se e disse:
- Filho, temos que ir agora para o jornal.
Confesso que fiquei um pouco decepcionado, mas intuindo a importância da situação, concordei sem reclamar. E rumamos para O Globo num táxi.
Naquela tarde, pela primeira vez na vida, entrei na redação de um jornal e aprendi como se revelam as fotografias. Percorri também os largos corredores com as paredes cobertas de capas históricas: O Dia em que o Homem Pisou na Lua, O Assassinato de Kennedy, O Suicídio de Getúlio, A Conquista do Tri no México, tudo ali, gigantesco, eternizado.
Acabei não ganhando a tão sonhada bicicleta. Mas a foto de meu pai foi capa d’O Globo no dia seguinte.
E eu soube para sempre que a notícia é mais importante que o homem.
Adorei a seção de crônicas e fiquei muito admirado com as poesias. Parabéns pelo blog.
http://eriolmala.blog.uol.com.br/
Rubens,
tua multiplicidade de linguagens é admirável.
Gosto, sempre, de vir aqui.
Abraço
Postar um comentário