“O que quer o que pode esta língua?”
Caetano Veloso
Quer pólvora, ponte, quimera. Mera ponta da Europa. Esta língua pode: abrasileirar-se, africanizar-se, aziar-se: Macau é aqui na esquina. Angola do outro lado da rua, aonde nois fumo, nois vai, nois vorta no vórtice da palavra, no vértice latino dos analfabetos:
— Seu nome? por favor:
— Aurélio, mas não sei ler nem escrever, meu senhor. Falar eu sei. Olha minha língua: diz tudo que preciso saber.
— Ok my friend? o importante é o speak up!
Esta língua quer viver na boca diária dos seus falantes. Quer ser mastigada com plurais e conjugações, temperada com orações subordinadas ao tempo. Esta língua pode ser/estar aonde nenhuma outra vai. Vaca de presépio. Arcaica no “vós temeis, vos sabeis, vós amais”. Vós não falais nem escreveis mais assim. Agora a voz é outra, menor. rápida e na tela do computador surge uma escrita mutante: “d ond vc tc?”, “daora vc ker tc aki?” “uia...eu tb toko guitarra”.
Falo e digo o que a língua lambe, mais que na escrita, é no vento que ela poetiza-se, puta de esquina, freira de claustro, mulher amarga e doce, barroca lavadeira esfregando-se mundo afora. A língua agüenta. O que não agüenta é o ouvido.
Let´s go my dear! Vamos ver como é bonita a linguagem dos índios afrotugueses que habitam aquele país ali embaixo.
Rubens da Cunha
3 comentários:
Grande texto, Rubens...e grande língua a nossa: aqui deste lado do charco penso/sinto o mesmo...
Abraço.
Oi Rubens!
Muito bom!
Muito bom!
Muito bom!
Muito bom!
Muito bom!
Abraços do CC
Gostei muito! Em especial da frase "é no vento que ela poetiza-se, puta de esquina, freira de claustro, mulher amarga e doce..."
Grande abraço, Íta.
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