23 agosto 2005

Enquanto espero

Enquanto BURABAS, o novo romance de Adolfo Boos Jr. não me chega as mãos, vou amaciando minha alma com seu livro de contos: "As Famílias".

Em breve, no Casa de Paragens, um perfil mais completo de um dos maiores escritores deste paí­s. Por enquanto, fiquem com um parágrafo do conto "A Noiva".

(O Blog Casa de Paragens adverte: ler Boos Jr. pode causar dependência)

"(...) Odiará: a cidade, a irmã, aqueles com quem nunca falou, os que ainda se lembram dela. Odiará, assim como odeia a casa, de uma maneira uniforme e silenciosa, crescente e sem rompantes, como se os longos anos ali vividos embotassem, além de qualquer vestí­gio de saudade, qualquer amena recordação, por mais descolorida que fosse, e soterrasse também a força que alimenta o próprio ódio, deixando-a, entretanto, latente dentro dela, igual a semente de uma erva daninha. Para ela e a irmã, a casa é um casulo de estragada cor-de-rosa, cheio de sombras e manchas de umidade, onde o sol custa a penetrar e, quando consegue vencer os limites das aberturas, detém-se logo no assoalho enegrecido, não alcançando os cantos empoeirados, onde dormem seus fantasmas. Por isso sabe: com sua carga de ódio um pouco maior, voltará. Caminhará a dura tragetória criada por seus pés esparramados, pelas trêmulas coxas molhadas de suor, pelas doloridas varizes, seguindo na grama seca a impressentida trilha. No meio de tanto ódio, um hiato - assim como a diminuta pausa de um pulmão, na luta para conseguir uma parcela maior de oxigênio; a súbita e enganosa parada de um coração, antes de retomar o compasso anterior - a repentina, arisca esperança de ouvir um chamado, a volta inutilmente retardada. (...)
Adolfo Boos Jr. As Famílias - FCC Edições - 1980

6 comentários:

Anônimo disse...

Boa indicaçao
boa seleçao

Enquanto espero, aguardarei.

[jb]

Anônimo disse...

Eu confesso. Fui iniciado pelo Rubens. Era uma quinta. Noite. Ele ofereceu e eu aceitei. Consumi de uma só tragada. Foram dois: "As Famílias" e "Um Largo e Sete Memórias". Hoje sou viciado em Boos Jr. À espera de burabas. Dizem, salvará essa alma.

Meu, esse Blog está puta-merda!

Abração.

Te+

Anônimo disse...

Porra, esqueci de assinar. Isso ai de cima é meu.

Te+

Anônimo disse...

Falar sobre Rubens da Cunha é falar de poesia de escrita de prosa de MPB de cinema de teatro de escola de faculdade de vida, o cara é pura inteligência, desculpe-me meu querido mais não é segredo nemhum que sou sua tiéte (mesmo). Adorei e fiquei encantada com esse Blog, ele esta a sua cara.
E é por esta razão que me faço hopede e só saio se for despejada.....
Beijos
Clemair

Anônimo disse...

Putz...esse blog tá tão bom que até os comentários são obras de arte...(obviamente exclui-se este...rs). Não conheço Boos Jr, Rubens, mas vou seguir a trilha...
abração!

Anônimo disse...

Culpa sua, Rubens!

"Um largo e sete memórias" é genial, mas foi um átomo de cheiro, que passou, foi absorvido e deixou vonteade de quero-mais.

E cadê?

Vou ter que viciar o sorteio do amigo oculto de novo? hehehe

Abração, cara. Grande casa!