30 janeiro 2012
28 janeiro 2012
27 janeiro 2012
16 novembro 2011
éguas e águas

06 outubro 2011
Eu vi o futuro
27 setembro 2011
Eu estou tão cansado,
mas não pra dizer
que eu estou indo embora.
Talvez eu volte,
um dia eu volto"
diz uma canção da minha idade.
Venho às portas desta casa para cantá-la
velho que sou
já não entro na casa há mais de mês
ninguém deu por falta, ninguém lamuriou-se com as portas fechadas,
com o veio seco desse velho poeta
um dia eu volto,
com o casaco de general ou de doutor
com a pulhice plena dos achaques à vida, um dia eu volto,
Breton, Bataille, Blanchot - BBB institucional
o que seria de vocês se acaso tivessem uma casa virtual?
o que seria de suas velhices incômodas se raramente entrassem nela, não por que vazia, mas porque o vazio estaria em vocês, mais, c´est vous, nessa sua língua sem ser e estar.
Pronto, mais um passo dentro da casa, mais uma limpeza dos corredores, os cantos ainda sujos, um dia eu volto, um sábado qualquer eu volto para (me) limpar a casa.
08 agosto 2011
Poço. Pai
(E demais memórias inventadas)
Ajoelhado,
à beira do poço,
o menino narcisa-se.
Mais do que um menino-narciso que ficava à beira do já feito, ele, junto com o pai, cavou seu próprio poço.
Lembra-se com candura: primeiro, o pai precisava saber por onde a água passava, qual o caminho secreto que ela tinha abaixo dos seus pés. Para isso chamava-se o Seu Lolo, que andava em todo o terreno com a forquilha na mão e ali, num canto qualquer do pasto, como que por milagre, aquele galho de árvore, fino, desprovido de qualquer força aparente, vergava-se em direção à terra, e dava a convicção ao Seu Lolo: pode cavar aqui.
– É de certeza, Seu Lolo? – O pai ainda duvidava, adulto. Ele não!
– Vamos cavar aqui, pai. – Não viu a forquilha quase sair da mão do Seu Lolo, tanta força fez para o chão. Tem água lá embaixo, sim.
O pai, quase bronqueado pela insistência do filho, por fim aceitava, e começavam a cavar.
Primeiro, a terra mole, escura, alimento para a grama do pasto, depois algo mais seco, arenoso. Seguiam cavando, cavando. A terra ia mudando. O fascínio ia crescendo à medida que encontravam folhas, gravetos, vestígios de tempos mais do que antigos.
– Já imaginou, pai, se a gente achasse um dinossauro?
– E lá isso existe? Nesse barro mole, tu só vai encontrar é folha morta mesmo.
E seguiam cavando. A umidade já aparecia na parede do poço, logo chegariam à água sagrada. Logo se confirmaria a ciência do Seu Lolo.
– Onde será que ele aprendeu a fazer, pai? Esse negócio de achar água assim, com a forquilha.
– Coisa dos antigamente, meu filho.
– Mas o senhor já tentou?
– Tem que ter o dom, ter o dom. Teu avô não tinha, eu não tenho, é bem capaz de tu também não ter.
E seguiam cavando. Ele um pouco mais triste, não ia ter o dom de achar água. Depois, um terreno argiloso. Esquecia um pouco do poço e ia ser escultor. A argila tornava-se barco, patos, cachorros, pessoas. Ria da feiúra de seus bonecos. Queria mesmo era cavar o poço, encontrar a água.
– Logo a gente chega no veio d’água, pode deixá!
E o pai cumpria o dito:
– Opa, chegamo!
Aos poucos, a água nascia, misturava-se ao barro, vinha subindo, suja, mas viva, dando razão à certeza do Seu Lolo.
– Amanhã tá cheio, aí a gente já pode ver se a água é boa mesmo.
Desde então, sempre vai ver o poço, ver se a água continuava presa e límpida espelhando-o viver.
Escrito num fim de verão, em 2008
30 julho 2011
Minhas mulheres
um oco baixo me acontece
a milhares de anos e léguas
minhas mulheres são medusas
talvez até fossem éguas se me permitissem a rima
minhas mulheres são granfinas
suas orelhas permanecem virgens a insultos
se lhes digo putas ouvem dálias
se lhes digo cadelas ouvem mar
e olham-me com carinho, como se de carinho fossem feitas
minhas mulheres rarefeitas em miséria, em virilhas
novilhas cruciadas
carnadas para meu prazer de homem
tenho remorso por comer minhas mulheres
sem lhes temperar, sem dizer que tudo não será abandono
que o dia seguinte é um útero
um vórtice de carne e travesseiro
e que talvez suas orelhas virgens possam entender, atender a ligação
30 junho 2011
30 dias
o esôfago: cartilagem acetinada que carrego dentro
são latidos e gemidos : meu filho meu dono meu tudo nao escape
não se perfume tanto no abandono
30 dias em que palavras foram doces amestrados
ametistas corroíras presas no jardim
30 estrangeiros estirparam meus ouvidos
e a falência de meus órgãos
sou um menino descampado
um príncipe pequeno
retificado na educação
e nos olhos ingênuos
30 maio 2011
18 maio 2011
A pressa
é uma pedra
não sou Sísifo
embora pareça
a pressa me acontece
mais como a montanha:
subir e descer
a pressa é um disfarce
um silêncio em máscaras
que carrego feliz
a pressa me acontece
no lugar da perda
08 abril 2011
Pro Mittere

Ilustração: Goya
30 março 2011
El perro
a casa cercada por cachorros
por dentro
un perro se remorde
remorso ancestre
dos tempos em que
as quatro patas
sabiam a terra
sabiam os pelos da barriga,
do sexo, das costas.
II
a casa cerrada para os cachorros
à porta,
olham para o bípede
ladram ao traidor
el perro se ressente
senta-se no sofá
e escreve um poema elevado
homem que é
23 março 2011

não tem feriado: tem fome
e tem fácil
meus pedaços nobres
a serem oferecidos às visitas
e meus miúdos
para o ensopado da segunda-feira
Ilustração: Lucian Freud
18 março 2011
a palavra vesga
agachou-se
acamou-se fêmea e foice
439 vezes
a palavra nesga tentou ser mais
não pode:
acalmou-se
mosca sobre a mesa
esperando a morte
vinda pela pazinha de plástico
08 março 2011
16 fevereiro 2011
19 janeiro 2011
Porcelana
Letra minha, música de Rico Vogel, o guitarrista da banda Lady Murphy
15 dezembro 2010
que frio fia-se sobre o outro
tempo dos avessos agora
a dor crespa da espera
e
a espera vesga do fim
logo ali o apocalipse
os quatro cavaleiros
e suas espadas festivas
logo ali um sol menor
mentindo-se verão
e a pele cada vez
mais branca
transparência
teu nome é o soco
que consigo pronunciar
22 novembro 2010
Dia 23/11 - Lançamento Crônica de Gatos

Reforçando o convite para o lançamento do livro "Crônica de Gatos", uma parceria minha como a ilustradora Regina Marcis
Livro: Crônicas de Gatos Local: Estação da Memória (antiga Estação Ferroviária) Rua Leite Ribeiro s/n Dia: 23 de Novembro de 2010 - a partir das 18:30h
Aguardo vocês lá
abraços
Rubens