18 maio 2006

Péricles Prade

Livro: Os Faróis Invisíveis
Editora Massao Ohno
1980

CÍRCULO DE MIL VÍCIOS PROPÍCIOS

O vício é medula
de suposto sabor

A ele me devoto
com redes e salamandras
do sonho decapitado nas cisternas

resistindo sempre

quando os mistérios do céu da boca das aves
sufocam o anjo distraído com as penas do sul



Na quinta porta
os ossos lacrados pela pesta

Na quarta
o odor do vôo
em desalinho

Na terceira
as vestes de escama falsa

Na segunda
o santo próspero
e seus crimes

Na primeira
os olhos do guerreiro albino



O corpo desconhece a superfície
nas esferas limitadas pela dor

Não é o pássaro zangado
a versátil criatura

Nem balão veloz
suprido pelo canto

E anjo não se presta
a vôo tão luminoso

O corpo desconhece a dor
porque o brilho apodrece o manto



Nos fornos de tantas formas
refiz terra e sais
com as mãos de vários polvos
Criei o sonâmbulo
dos hemisférios vigentes
perseguindo a si próprio
círculo de mil vícios propícios

Cabeça oval/três antenas de cera
é o quanto basta
para mágicos redimidos
Volta-se o pião
seguindo o mesmo caminho
porque só assim vale a experiência



Tronco algum é mais belo
do que o de ouro
entre as costelas de estanho
oh meu servente caiado
sem falhas e ousadias

Membros todos os membros
sob as árvores musicais vizinhas
e no bolso das aranhas separadas
antiquíssimos espinhos deste mal

® Péricles Prade

4 comentários:

douglas D. disse...

é sempre bom vir aqui...palavras; imagens; sentimentos...

isabel mendes ferreira disse...

mt a correr passo para dizer.



extraordinário.


beijo.

Ilidio Soares disse...

é. a Isabel resumiu legal (mendes ferreira). Muita coisa pra dizer após muitos espantos. eu entendi o que vc disse por lá. agora me deixa babar o que vc reproduziu aqui.
um grande abraço
Ilidio

Lia Noronha disse...

Que tocante a sua poesia...realmente o corpop perde toda a sua sabedoria...qdo entra no patamar da dor...
Obrigada pela visita ao meu Cotidiano.
Peço permissão pra te linkar por lá,ok?
Abraços carinhosos e boa noite de quinta-feira.