29 junho 2007

os rinocerontes

Ontem matei meus rinocerontes. Eu os possuía desde menino. Cresci. Eles também. Adultos, nos olhávamos feito inimigos.
Eu disse: olha, fomos amigos de infância, meu pai me deu vocês de presente, crescemos juntos, por que esta fúria?
Eles disseram: nada compensa nossa perda, nada compensa estes chifres curvos, esta pele enrugada, este nome difuso que temos. A sorte nos encaminhou para ti. Matamos a sorte há muito tempo. Nunca percebeste, não é? por isso te odiamos. Somos frágeis, é bem possivel que estas palavras irão nos matar. Não faz mal. Pela primeira vez tivemos escolha.
Eu é que não tive escolha.



® Rubens da Cunha

15 junho 2007

Palavras emprestadas 8 - Octavio Paz

Paragens abrasadas
do amarelo ao carmim
a terra é linguagem calcinada.
Há puas invisíveis, há espinhos
nos olhos.
Num muro cor de rosa
três abutres saciados.
Não tem corpo nem cara nem alma,
está em toda a parte,
a todos nos esmaga:
é injusto o sol.


Octavio Paz in: Transblanco.
Tradução de Haroldo de Campos

Encontrei este livro na feira do livro da bucólica Timbó - SC. Era começo de tarde, o sol existia e minha sorte também: paguei R$ 5,00 por um livro que há muito buscava.



12 junho 2007

Guindaste

preparo ceias
cheias de veneno e púrpura

elevo meus dias
ao preço da solidão descarnada

desencarno
e pássaro ao outro lado
® Rubens da Cunha
Ilustração: Dilberto de Assis

05 junho 2007

Palavras emprestadas 7 - Lima Barreto

"Não é só a morte que nivela; a loucura, o crime e a moléstia passam também a sua rasoura pelas distinções que inventamos".

Lima Barreto em "O Triste Fim de Policarpo Quaresma". Um livro, para a tristeza da terra Brasil, ainda e cada vez mais atual.