31 outubro 2006

à resconstrução do mundo

I

A mulher que tem artelhos dobrados
telhas na pele
ventos de toda espécie
vendas nos sentidos
não cantarola bálsamos

A mulher que esquenta comida em frigideiras rotas
e traz pés encardidos pelo caminho desuso
e não sabe dos espasmos, (ah! meu deus, e não sabe dos espasmos)
desconhece dedos reentrâncias
desfigura tempo e carne sólida
salga de noite lama
o que lhe é sol campo aberto

A mulher que descuida de seus instrumentos
saliva lágrima vermelhos
corrimentos de perder guerra e visão
não previne futuro
não prevê desertos aquecimentos
desvê
vela inata triste

em nada aguentam os poros
se a mulher torrencia fugas
e não desvela a que veio
veia parcimônia

II
Coragem de grandes luas
virá tempo de exatidão
viragem fêmea sobre
o escombro homem

O galgar das donzelas aptas
Eva Pandora Maria
Lucrécia Catarina Cesárea
trará voragem necessária
à reconstrução do mundo
® Rubens da Cunha


25 outubro 2006

As crinas do tempo não dispersam os ensaios. São figurações de vime. Cenários inscientes da nudez. Entre os atos, amam-se intragáveis. Quase informes de tantos dentes à mostra. São bocas esmiuçadas no carrilhar dos dias. Falam daquilo que segreda a salvação, como se fossem cristãos em tempo de Nero.
® Rubens da Cunha

10 outubro 2006

tem certos não olhares que me fascinam...



Fotografia de Manoel Alvarez Bravo


foi dia sem poemas, mas com algumas vontades.
deixo aqui meu desejo por quem não me vê.

09 outubro 2006

porque também é preciso ver
é consiso respirar
dia tanto
tato de sol
cozendo sombras
espasmos

segue, criança, a vida não é escada nem esmola

Da série - Os animais no poeta - Águia

aguiabismo
cismo ser altar de vento
reta de esconjuro
recuso ser feto-homem
sou feito de pena e vôo
Cristo me disse enquanto caíamos: Irmão, teu medo ilumina minhas escaras.


® Rubens da Cunha

06 outubro 2006

euagora

Acordar antes que os amarelos prenunciem seus domínios. Insônia infante. Madrugada de olho aberto. O quarto circunscrevendo os limites da vida. O corpo descrevendo, descrendo os impropérios do cansaço. O silêncio acompanha o infortúnio. Lá fora, os ratos desconhecem a fome.