08 agosto 2006

Da série - os animais no poeta - Borboletas

Tenho almoçado borboletas.

Às margens de onde vivo, elas vermelhoenchem meu jardim.
Levo em leveza seus corpos à boca e mastigo e engulo e acabo com a fome.
Dizem que o ácido de suas asas corrompe o estômago.
Desacredito.

Ontem havia um grilo verdesujando meu almoço.
Retirei o intruso do prato e o lancei aos cães.
Destino de grilo é boca imunda.
Em boca humana, somente quem é silêncio pode entrar.
® Rubens da Cunha

10 comentários:

Anônimo disse...

"Em boca humana, somente quem é silêncio pode entrar". - adorei!!

mas boca humana também é imunda..

abraços
Í.ta **

Claudio Eugenio Luz disse...

Meu caro Rubens, meu caro, essa serie promete; visto esse lindo poema. A parte sobre o intruso é uma passagem singular, pois, transborda sutilezas que poucas pessoas percebem.

hábraços

Anônimo disse...

A minha "Borboleta":
Inexplicavelmente lenta qual
dirigível, surgia no alto desafogada
depois do «era uma vez».
Eu pensava um pensamento e
ligeiramente os olhos cerrava.
O mundo não tinha
ossos, e os lábios estremeciam-me muito brandos
no esquecimento do animal. Vejo ou
não vejo o pensamento porque ele a mim próprio pensava.
Hoje ainda lhe sinto a pele
no corpo aparente
sem jamais conhecer o antes de eu
o antes do «era uma vez».
® CSA
Abraços, aguardando o próximo.

douglas D. disse...

e
como silêncio
mundo todo
sobre asas
num re-voar
sem artifícios

Anônimo disse...

beleza pura. pura.
um beijo daqui.

Anônimo disse...

lembrei duma frase...muito dita pelos vegetarianos(que eu infelizmente não sou: "somos o que comemos"...então que seja...
um beijo

Ana Russi disse...

Poeta,
mergulhei de cabeça nessa poesia multicolor-zoófila...
AP

Lia Noronha disse...

Rubens: que maravilhosa viagem ao Universo da criação poética...adorei!
Abraços carinhoso e boa semana pra vc.

Fabio Rocha disse...

Me sinto lendo uma reinventura de Manoel. De qualidade. Abraço

Anônimo disse...

Minha boca humana calou-se diante de tanta beleza! Lindo!