02 fevereiro 2006

Quando Deus morreu era um dia azul. Inverno. Estávamos todos ao sol. Lagartos. De repente, o azul do céu começou sangrar, primeiro foi um filete de sangue escorrendo pela abóbada, até se perder no horizonte, depois mais e mais até todo o céu estar vermelho. Deus sangrou devagar, pois não choveu sangue, como era de se esperar, tudo o que vimos foi o líquido escorrendo, como se estivéssemos debaixo duma redoma e alguém jogasse tinta sobre ela. Alguns ouviram gemidos. Não foi comprovado. Outros juraram ter visto Deus fugindo para Saturno, com Jesus, Maria, e mais alguns santos e anjos, também não foi comprovado. Desde aquele dia não tivemos mais notícias de Deus, comprovando assim sua morte. Ficamos tristes por um tempo. Luto mesmo. Deus cuidava bem de nós. Agora, passados dois invernos, o céu até está azul novamente: o novo dono usou as nuvens para limpá-lo. Chama-se Lúcifer. Diz que matou Deus porque não teve escolha, e só retornou para o que era seu. Não nos fez mal. Nos finais de semana desenha fogueiras entre as nuvens. As crianças gostam.

© Rubens da Cunha

12 comentários:

Kimu disse...

Arriso dizer, que não só as crianças, meu caro...

Anônimo disse...

Nietzsche ia adorar ler isso. Afinal comprovaria a sua teoria de que Deus morreu e há no céu uma guerra pela tomada do poder universal. As crianças gostam de guerras. nas estrelas.

Claudio Eugenio Luz disse...

Antes de Deus morrer, haveria a necessidade de se comprovar sua existência. A temática religiosa rende frutos, as vezes, terrificantes.
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hábraços
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claudio

Conceição Paulino disse...

Lúcifer, lagartos-homens e..deus sangarndo mansamente....
bom f.s. Bjs e ;)

Conceição Paulino disse...

acabei de te DESAFIAR.Passa lá por casa para saberes mais. Bom domingo.Bjs de luz e paz

Edilson Pantoja disse...

Êpa,êpa! Forte, muito forte! Gostei!

Edilson Pantoja disse...

Alguém disse acima que Nietzsche adoraria isto... Dostoiévski veria nisto mais um dado da tentativa humana, demasiado humana, de emancipação. Um equívoco para ele. e Nietzsche lia Dostoiévski... Vá entender!

Leila Silva disse...

Rubens,
Muito bom...Com todos os temperos.
Deus morto, um Lucifer no lugar e as mudanças não são perceptíveis. Ótimo.

_vera_ disse...

e no neerlandês, 'lucifer' é um fósforo. tanto sangue e nuvem condensados e reduzidos a este tão corpo tão estreito, apenas conferindo sentido à sua 'existência' através da sua própria combustão...ironias semânticas, subversões/microrevoluções celestes
(apenas achei curioso, descobri isto recentemente)

Anônimo disse...

menino...
que coisa...

Day Fanzoca

Helena disse...

Maravilha, Rubens. Perfeito.

beijão,

Helena

Anônimo disse...

No dia em que Deus morreu, dois ladrões morreram do lado dEle. Um queria se justificar e livrar-se da justa morte por seus pecadores, o outro cria ser Jesus o Cristo e creu que Ele é JUSTO. No dia em que Deus morreu, Ele salvou a vida de todos os homens pecadores que creram, que crêem e que ainda crerão. Porém, Deus morreu e ressuscitou. E, no dia em que Ele voltar, julgará toda raça humana pecadora que resolveu por livre e expotânea vontade despresá-Lo, servindo e adorando seu adversário, que era Lúcifer (anjo de luz) mas tornou-se satanás: mentiroso e pai da mentira.
Um aviso: De Deus não se zomba.

"Todo aquele que invocar o Nome do Senhor será salvo". Atos 2:21

Cláudio Queirós Costa.
Imperatriz - MA. (99) 8114-7932