01 outubro 2005

Autores Catarinenses - Olsen Jr.



Autor: Olsen Jr.
É Catarinense, nascido em Chapecó. Jornalista profissional e formado em Direito.
Livros : Os Equecidos do Brasil, Confissões de um Cínico, Estranhos no Paraíso


Aqui, uma entrevista com Olsen Jr, um dos mais atuantes escritores de SC



Do livro: Desterro, SC
Editora: Insular
Trecho do conto: A Confissão
(a escolha do texto foi por identificação imediata)

"(...) No meu caso, sou escritor, menos porque escreva, mas porque no "meu projeto" está a resolução de reinterpretar o mundo através da literatura. O primeiro obstáculo a ser enfrentado - nesse caso - é superar a vergonha de, ao ser interpelado sobre: "qual é a sua profissão?" - afirmar com convicção: "sou escritor". Porque neste País subdesenvolvido, ser jogador de futebol é ter uma profissão, mas ser escritor é o mesmo que nada. Você está rindo? Eles também riram quando falei naquele dia lá na Universidade. Mas vejam, continuei, outro dia alguém me perguntou se eu estava trabalhando, eu disse que sim. Então, diante da inevitável questão "o que é que você está fazendo? - Respondi que estava concluindo um livro de contos. Aí, precisava ver os olhos do meu interlocutor, que sem perder a compostura, afirmou: "mas trabalhar mesmo você não trabalha, né?. Bem, diante dos dois fatos: primeiro, a concepção pré-histórica do "trabalho" e segundo, que a criação literária não é um "trabalho" fica difícil e é inútil usar qualquer técnica persuasiva para desmontar este equívoco, mesmo porque, acredito, o verdadeiro escritor não tem que provar nada, precisa apenas ter uma questão com a vida. O esforço para resolvê-la está no resultado de seu trabalho. Aqueles que escrevem pensando no leitor, são os redatores de publicidade. Agora, a confusão se estabelece com alguns cretinos tentando dar um sentido para suas existências e que ao invés de criar cavalos ou colecionar selos, resolvem escrever. Além de acabar com o profissionalismo, tornam esta arte como uma atividade secundária. Mas a verdadeira literatura, idepende do leitor, e se a "questão com a vida" de seu autor for legítima, permanecerá, como um Poe, um Kafka, Hemingway, Proust, enfim, tudo isso independente de Deus, porque se Ele "não existe (lembrei-me na hora de Dostoievski) então tudo é possivel" ou "supondo que Ele exista (repeti Sartre) o que é que muda?" Em suma, amigos, somos os donos do nosso destino e como já disse para um jornalista, concluindo agora, a nossa conversa, não é necessário pensar como eu, basta pensar comigo.(...)"

2 comentários:

Helena disse...

Identificação imediata também. Dois lados da mesma fuzilaria que nos destroi - os idiotas e os idiotas.

besos,

Helena

Ricardo Mainieri disse...

Lúcido este teu conterrâneo.
Qualquer pagodeiro ou "boleiro" é um profissional.Bem pago por sinal.
Mas ser escritor parece ser algo secundário, como ele se refere.
Pensar, neste tipo de sociedade em que vivemos, é terciário, quaternário.
Tudo o que questiona o "status quo", incomoda!

Abraço.

Ricardo Mainieri